Este poderia ser mais um texto sobre Certificados de Aforro, Série E, Série F, declarações do ministro, Bancos e Dívida do Estado. Mas não! Aproveito o pretexto de estarmos com a atenção de volta dos temas risco, retorno e poupança para lembrar algo que temos tendência a esquecer: se queremos enriquecer com investimentos, temos de correr riscos! De certificados em certificados, de Depósitos a Prazo em Depósitos a Prazo, não vamos ganhar dinheiro. Poderemos dizer que com essas aplicações não perdemos tanto em comparação com a opção de ter esse dinheiro no mealheiro ou debaixo do colchão, mas ganhar dinheiro, não ganhamos.
O dinheiro tem um valor atual e um valor futuro. Ou seja, o facto de hoje ter 1.000 euros, e de não os gastar durante 10 anos, não significa que tenha o equivalente a 1.000 euros daqui a 10 anos. Há uma diferença entre o valor nominal e o valor da troca. As moedas continuam a ter o mesmo valor nominal, mas já não conseguimos trocar pela mesma mercadoria que trocávamos há 10 anos. Isto significa que para realmente ganhar com os investimentos temos de garantir um retorno que permita ter um valor de troca superior ao que temos no momento em que o investimos.
Com este conceito presente e ao verificarmos a rentabilidade dos Certificados de Aforro – que não são garantidas, mas estão limitadas (antes a 3,5% e agora a 2,5%) e sobre as quais recaem tributação (taxa liberatória de 28%), facilmente percebemos que este tipo de investimento não será suficiente para garantir no futuro a mesma qualidade de vida de hoje. Se queremos ganhar dinheiro com os investimentos que fazemos, temos de correr riscos. Para isso é muito importante ganhar uma boa relação com o conceito “risco”.
Quando nos dizem que alguma coisa tem risco, a tendência natural é evitá-lo, mas o facto de querer evitar o risco não significa que não tenha de lidar com ele. Quase tudo na vida tem um risco associado, mas fomos educados a conviver com ele: por isso conseguimos andar de avião, nadar no mar ou deslocarmo-nos de mota. Já nos investimentos, parece que a maioria dos portugueses não foi educado a conviver com o risco associado aos mesmos.
Há algumas regras básicas que devem ser lembradas sempre que estamos diante do risco associado ao investimento do nosso dinheiro:
- “Não pôr os ovos todos no mesmo cesto” – o princípio da diversificação está muito bem sumarizado neste ditado popular. Ter o dinheiro aplicado em diferentes classes de ativos, regiões, moedas, etc é uma forma inteligente de lidar com o risco;
- “Com o dinheiro não se joga. Investe-se!” – Algumas vezes somos tentados a fazer investimentos como se de uma aposta se tratasse, quase numa lógica de jogo de casino. Isso é um erro. Temos de ter critérios racionais para investir para que não seja uma lógica de jogo de sorte/azar;
- “Investir naquilo que se percebe” – A informação é muita e de fácil acesso, o que nem sempre é bom. Por vezes, podemos tomar decisões de investimento com base em pesquisas por sites pouco recomendados ou por conversas entre amigos. Temos de saber onde está a informação fidedigna e garantir que sabemos no que estamos a investir;
- “Não ganhamos sempre, nem para sempre” – Também por este motivo a diversificação dos investimentos é essencial. Vai haver investimentos muito rentáveis e outros nem tanto, mas não podemos precipitar-nos. O horizonte temporal com que investimos vai definir o tipo de risco que corremos e temos de estar preparados para passar por temporadas em que a rentabilidade do investimento pode ser negativa. Temos de ter paciência para respeitar esse horizonte, pois o risco tem tendência a mitigar no longo prazo;
- “As pessoas só falam quando estão a ganhar” – Tenho assistido a vários casos de “investidores cowboy” que se gabam de estarem a ganhar muito com determinado investimento (é típico no caso das criptomoedas!). Mas quando reencontro esses mesmos investidores e não falam mais do assunto é porque, tipicamente, aqueles ganhos apetecíveis revelaram-se ilusórios e já não percebem quando devem vender ou comprar. Estão perdidos e ficam arrependidos de terem ido na moda dos investimentos. Se muitos estão a ganhar é porque, provavelmente, alguma coisa vai mudar e, pode acontecer, que quando esteja a entrar já seja tarde. Este movimento de ir com os outros, associado ao desconhecimento do ativo, pode causar grandes danos na relação com o dinheiro.
No fundo, estas são as regras de segurança que nos permitem correr riscos controlados e criar condições para enriquecer. Caso contrário, ficaremos na lógica de pôr o dinheiro a render para que ele não desvalorize muito, ou seja, para não perdermos tanto… e assim não se cria valor!