No ‘museu tecnológico’ que também é o Nova SBE Digital Experience Lab, encontrámos um livro que nos foi doado, intitulado “Guia dos Pontos de Acesso à Internet em Portugal”. Ao longo de mais de 100 páginas, listam-se todos os pontos de acesso públicos à internet, em lista e no mapa (sim, mapa mesmo).
Mas o aspeto mais interessante deste livro é a data de publicação: 2005 / 2006. Ainda não fez 20 anos. Foram 20 anos em que passámos de ter a internet em locais específicos para andar com ela para todo o lado, acedendo-lhe de qualquer lado. Se contarmos com o 5G, que está a dar os seus primeiros passos, nestes quase 20 anos estão contidas 3 gerações de comunicações móveis: o 3G, cujo desenvolvimento comercial começou em 2001, o 4G que começou em 2009 e o 5G, lançado em 2019.
As características de cada uma destas gerações permitiu melhorar a forma como comunicamos e, acima de tudo, desbloquear novos casos de uso: o 3G, por exemplo, tornou possível a navegação web através dos nossos telemóveis. Isso ajuda a explicar o crescimento da Blackberry, cuja proposta de valor assentava no acesso ao email a partir de qualquer lado. Já o 4G ajuda a explicar o declínio desta empresa: contrariamente à Apple e à Google, a Blackberry nunca se conseguiu posicionar a tempo de responder aos grandes volumes de dados que o 4G trouxe consigo. Estes últimos 10 anos foram marcados por uma verdadeira ‘app economy’, em que qualquer coisa que precisemos está disponível na app store do nosso smartphone. Alguns dos serviços mais populares nos dias de hoje – Amazon, Netflix, Facebook, Youtube, Uber, Tesla, etc. – ganharam escala graças a uma rede de comunicações móveis rápida, segura e resiliente.
Temos, agora, o 5G, que promete escalar ainda mais esta rapidez, segurança e resiliência. Artigos como este e este ajudam a perceber o potencial desta tecnologia.
A grande promessa do 5G é conectar tudo, todos e todas as coisas: Frigorificos com serviços de entregas. Sistemas de rega dos jardins da cidade ligados à estação meteorológica mais próxima. Os carros a comunicarem entre si nas estradas. Literalmente tudo. O mercado da Internet das Coisas tem crescido a olhos vistos e prevê-se que em 2030 cada pessoa venha a ter, em média, 15 dispositivos conectados. Isto irá corresponder a um volume sem precedentes de informação a ser gerada, transmitida e analisada.
Embora as redes 5G sejam mais eficientes a transmitir dados quando comparadas com as 4G, esses ganhos energéticos serão potencialmente perdidos devido ao aumento de energia consumida pela maior densidade de dispositivos conectados, naquilo a que se chama o Paradoxo de Jevons.
Havendo trabalho a fazer nesta área, a missão do 5G num futuro mais sustentável poderá não se esgotar na eficiência das diferentes camadas da rede. Certo é que ligar máquinas à rede e coloca-las em comunicação entre si poderá desbloquear casos de uso novos: a gestão mais eficiente de edifícios, a coordenação de veículos nas estradas, a agricultura de precisão, entre outros, têm o potencial de gerar ganhos de eficiência e poupança de recursos e energia com um impacto muito interessante.
Mas podemos também delinear outros casos mais futuristas:
imaginemos que os bombeiros e a proteção civil dispõem de vários esquadrões de drones-bombeiro que funcionam autonomamente, e que o nosso território tem um conjunto de sensores que lê, no local, indicadores importantes para o risco de incêndio. Através do 5G seria possível relocalizar esses esquadrões consoante o risco de incêndio e ativá-los automaticamente no primeiro momento da deteção de um incêndio. Imaginemos agora a utilização destes sensores e equipamentos autónomos ao serviço das áreas protegidas (por exemplo rios e mares): poderíamos detetar e prevenir atividades ilícitas rápida e automaticamente (como as descargas ou a pesca ilegal).
Para além da terceirização do conhecimento que temos vindo a fazer progressivamente (quando é que foi a última vez que decorou uma data de aniversário?), o 5G vai permitir terceirizar a ação. Colocar grandes quantidades de máquinas e sensores a comunicar entre si irá permitir executar automaticamente algumas funções, tornando o tempo de decisão e resposta mais rápidos. E importa não esquece que na saúde, no ambiente, na gestão de incidentes e em tantas outras áreas, tempo de decisão e resposta rápida são, muitas vezes, fatores críticos de sucesso.
Na publicação anual de 2010 do gráfico ‘Hype Cycle’, a Gartner dava conta de que os tablets, a computação cloud e as redes 4G estavam no auge da sua popularidade, à beira de um rápido declínio para o que os analistas chamam de “vale da desilusão”. Mal sabiam estes analistas a dimensão e impacto das fases seguintes do gráfico no que diz respeito ao 4G.
Consegue imaginar a dimensão e o impacto de viver num mundo em que – literalmente – tudo e todos estarão conectados?