Há uma crise de talento no mercado de trabalho. A dificuldade em encontrar as pessoas com as competências que as empresas procuram foi um dos temas em análise no Fórum Futuro do Trabalho. A possível solução passa por procurar uma maior diversidade e inclusão como forma de responder ao desafio da falta de talento.
Pedro Amorim, managing director da Experis Portugal, deixou alguns dados que mostram a dimensão do que chama de “crise de talento” num dos painéis do Fórum Futuro do Trabalho, uma iniciativa da Exame em parceira com a ManpowerGroup e com a AESE que decorreu esta quinta-feira. O responsável realçou que na UE, “por cada duas vagas aberta, uma não é preenchida por falta de competências das pessoas, sejam técnicas ou pessoais”. E concluiu que essa crise de talento só se vai ultrapassarmos de ajustarmos este desequilíbrio.
A questão para o milhão de euros é: mas como se pode fazer isso? “Apenas conseguiremos ocupar essas vagas com um foco na inclusão, na diversidade, no emprego sénior e também dos jovens que nem estudam nem trabalham”, considerou o especialista, que salientou a importância de olharmos para o S da sigla ESG (ambiente, social e governança).
A Ikea é uma das organizações que tem tentado tornar a diversidade e a inclusão ao serviço da atração de talento. Cláudio Valente, people & culture manager da empresa de mobiliário partilhou alguns programas que a Ikea tem colocado em prática. “Se andarmos à procura de talento no mesmo sítio onde todos procuram, as dificuldades serão maiores”, referiu. Assim, revelou que a empresa iniciou há dois anos uma iniciativa para a empregabilidade de refugiados. “É um programa em que temos um estágio de seis meses, em que as pessoas têm a possibilidade de aprender a língua portuguesa, as competências para a função de retalho e também aspetos socioculturais”, detalhou. A juntar a isso, a empresa tenta fazer com que todos na organização tenham um papel na integração dessas pessoas.
E quais os resultados? “Temos recrutado 87% das pessoas que estiveram nesses programas e estamos a abrir vagas para pessoas que venham da Ucrânia”. Além de alargar os horizontes para atrair talento, Cláudio Valente sublinhou também a importância de o reter. Assim, além de permitir que as pessoas testem diferentes funções na empresa, houve medidas para acabar com as diferenças salariais entre homens e mulheres e aumentar a diversidade nos órgãos de gestão. Já há paridade de género e a Ikea quer que até 2024, exista “15% de representação de grupos étnicos minoritários em lugares de liderança”.
Apesar da importância da diversidade e da inclusão, resolver a crise do talento exigirá também um grande esforço de requalificação. E Portugal é – através do programa PRO_MOV – um dos países mais avançados na operacionalização da Reskilling 4 Employment, uma iniciativa inovadora de âmbito europeu que pretende requalificar, até 2025, um milhão de pessoas em situação de desemprego ou em profissões de risco, cuja qualificação e/ou experiência profissional seja desajustada face a necessidades atuais e emergentes de um mercado de trabalho em profunda alteração.
A SAP Portugal é uma das empresas líderes deste projeto. Patrícia Cristóvão, Head of HR da tecnológica, realçou que o “objetivo é pegar em pessoas com mais anos de experiências e cujas profissões já desapareceram ou estão a desaparecer e formá-los em novas áreas”. E explicou que “existem sete laboratórios que se centram no tipo de competências que as empresas procuram e que tentam encontrar no mercado pessoas disponíveis e interessadas em fazer essa mudança”.