A maioria absoluta do PS foi interpretada de forma positiva pelas quatro principais agências de rating, que tendem a valorizar a estabilidade e previsibilidade política. Os analistas destas entidades – que são um guia importante para os investidores – consideram que os resultados eleitorais podem ajudar a uma implementação eficaz dos fundos europeus, à melhoria do crescimento no curto prazo e ao caminho de equilíbrio das contas públicas.
“Esta maioria inesperada pode inaugurar um período de estabilidade política num momento importante”, refere Jason Graffam, numa nota a investidores divulgada esta terça-feira. O vice-presidente do departamento de Global Sovereign Ratings Group da DBRS considera que este desfecho “pode reduzir obstáculos legislativos numa fase em que o País ambiciona acelerar as perspetivas de crescimento através de uma execução efetiva dos investimentos e reformas ligados ao financiamento da UE”.
Esta maioria inesperada pode inaugurar um período de estabilidade política num momento importante
DBRS
Esta ideia é comum às outras três entidades de notação de crédito. “Ter um governo de maioria é um bom sinal para a capacidade de se cumprir com as metas e objetivos do Plano de Recuperação e Resiliência que foram acordados com a EU”, afirma também Sarah Carlson, vice-presidente da Moody’s, num relatório. A analista da agência considera que os anteriores governos de António Costa “promoveram políticas orçamentais prudentes”, o que fez com que o País tivesse uma posição orçamental equilibrada quando teve de enfrentar a crise pandémica.
Menos esquerda, mais consolidação orçamental?
Agora, sem estar dependente de Bloco de Esquerda e PCP, as instituições de notação financeira esperam mais medidas de controlo e de equilíbrio das contas públicas por parte do governo de António Costa. A equipa de analistas da Fitch, por exemplo, diz que vê a maioria do PS como “positiva” porque “reduz a incerteza sobre a orientação da política orçamental”. Num relatório desta terça-feira, 1 de fevereiro, a agência salienta que “as propostas orçamentais do Bloco de Esquerda e do PCP – que incluem mudanças na lei laboral e no fator de sustentabilidade do sistema de pensões – são agora muito improváveis de constar no OE de 2022”. Na perspetiva da Fitch essas medidas representavam um risco para as metas orçamentais do País.
Acreditamos que Portugal avance na consolidação orçamental e na implementação do PRR
Standard & Poor’s
Os analistas da Standard & Poor’s também esperam que, com uma maioria parlamentar, “Portugal avance na consolidação orçamental e na implementação do PRR”. No que diz respeito às contas públicas, esta entidade prevê que em 2021 o défice tenha sido de 4%, o segundo mais baixo da Zona Euro. Para este ano a projeção é de que desça para 3,2% e que exista também uma redução do rácio de dívida pública.
Ao mesmo tempo que o investimento poderá subir ao abrigo do PRR, as agências preveem que o novo governo continue a cortar na dívida nos próximos anos. “Após 2022, esperamos que a política orçamental permaneça favorável a uma redução da dívida pública, que atingiu um pico de 135,2% do PIB em 2020”, refere a Fitch. Segundo dados divulgados esta terça-feira pelo Banco de Portugal, esse indicador caiu para 127,5% em 2021. A Fitch estima que a dívida desça para 123,9% em 2023.
Após 2022, esperamos que a política orçamental permaneça favorável a uma redução da dívida pública
fitch
Caderno de encargos para o longo prazo
Apesar de as agências de rating serem unânimes em que, do seu ponto de vista, os resultados das eleições são favoráveis para a economia e contas públicas, apontam-se vários problemas que o próximo governo de Costa terá de resolver para melhorar o crescimento potencial do País.
“O crescimento potencial de longo prazo depende da implementação completa do PRR entre 2022 e 2026”, sublinha Sarah Carlson. A analista da Moody’s nota que “apesar do progresso significativo desde a crise financeira global, o potencial de crescimento de Portugal continua constrangido pela rigidez no mercado de trabalho, enquanto o investimento limitado, o baixo nível de qualificações e a fraca inovação aumentaram o fosso de produtividade face aos pares”. No entanto, a vice-presidente da agência considera que o PRR contempla alguns desses problemas, o que pode ajudar a promover mais crescimento.
apesar do progresso significativo desde a crise financeira global, o potencial de crescimento de Portugal continua constrangido
moody’s
Também Michael Tran, economista da consultora Capital Economics, sublinha num relatório a que a EXAME teve acesso, que após a forte recuperação económica esperada para 2022 o grande desafio será “alcançar um crescimento sustentado do PIB impulsionado pelo aumento da produtividade”. E conclui que “o resultado das eleições dá ao governo a oportunidade de prosseguir com reformas orçamentais e estruturais”.