E se houvesse mais peixe graúdo no lago? A Associação Business Roundtable e a NOVA Information Management School procuraram estimar o efeito hipotético de 150 novos grandes grupos aparecerem no tecido empresarial português. O impacto é significativo e pretende ilustrar a relevância das grandes empresas para a economia.
O estudo faz dois tipos de exercícios. O primeiro é imaginar que, de um dia para o outro, aparecem 150 novas grandes empresas, distribuídas pelos setores mais produtivos da economia nacional. Previsivelmente, a simulação produz efeitos substanciais: exportações dispararam 10%, aumento de 4% da criação de riqueza (medida pelo valor acrescentado bruto), mais 5% de impostos e reforço de 1% na produtividade e nos salários.
Um exercício alternativo – e talvez mais “realista” – é imaginar que essas 150 empresas não aparecem de pára-quedas, mas resultam do crescimento de empresas médias, inseridas nos setores mais produtivos, com maior potencial de crescimento. O impacto é, naturalmente, inferior, mas ainda significativo. O estudo estima um crescimento de 3% das exportações e de 5% da receita fiscal.
Para os promotores do estudo, estas conclusões mostram que é necessário fomentar o crescimento das empresas nacionais. “Precisamos, urgentemente, de agir. Portugal atravessa neste momento um cenário de défice de produtividade, perante o qual a percentagem inferior a 1% de grandes empresas na nossa economia não chega para estimular o crescimento que o país necessidade”, sublinha António Rios Amorim, vice-presidente e líder do grupo de trabalho dedicado às Empresas da Associação Business Roundtable e CEO da Corticeira Amorim, citado em comunicado. “É, por isso, imperativo adotar soluções estruturantes que nos permitam potencial o crescimento das nossas empresas, tornando as pequenas médias, as médias grandes e as grandes globais.”
As conclusões do estudo mostram como uma fatia muito grande da riqueza gerada em Portugal já tem origem nos grandes grupos. O top 1% de empresas é responsável por 57% do valor acrescentado bruto, 62% das exportações, 48% dos gastos com pessoal e 71% dos impostos.
“Se nos focarmos apenas em 1% do total de empresas em Portugal – percentagem onde se inserem as 1.291 grandes empresas contabilizadas em 2019 – facilmente percebemos o forte impacto que as organizações de grande dimensão têm, tanto a nível económico, como dos trabalhadores e do próprio Estado”, refere o professor da NOVA IMS Bruno Damásio, responsável pelo estudo.
Na verdade, as grandes empresas têm um peso inferior a esse, uma vez que representam menos de 0,3% do tecido empresarial. A economia portuguesa é conhecida pela sua dependência de pequenas sociedades. Em 2019, 88% das empresas eram micro. Isto é, com menos de dez trabalhadores e vendas inferiores a dois milhões de euros. Para ser classificada como “grande”, uma empresa tem de empregar 250 ou mais pessoas e ter vendas superiores a 50 milhões de euros por ano (e ativo líquido superior a 43 milhões).
Ainda assim, o número de empresas grandes cresceu entre 2016 e 2019, saltando de 1.038 para 1.291. Quase metade delas estão na Área Metropolitana de Lisboa, concentrando-se em três setores: indústria transformadora (29%), comércio por grosso e retalho (18%) e atividades administrativas (14%). Em média, pode ler-se no relatório, estas empresas têm um valor acrescentado bruto dez vezes maior do que uma empresa de dimensão média, são 3,7 vezes mais produtivas e gastam 30% mais por trabalhador. O seu investimento em investigação e desenvolvimento é, em média, seis vezes maior.
Por outro lado, embora os salários mais altos sejam pagos nas grandes empresas, há também um peso significativo das remunerações mais baixas. Quanto aos impostos, o facto de uma fatia tão grande da receita fiscal vir de tão poucas empresas revela a sua relevância, mas alimenta também o debate sobre quantos beneficiários haveria de facto com uma descida de IRC.
“Perante estes números, qual não seria o impacto de existirem 2, 3 ou quatro vezes mais grandes empresas no nosso país?”, questiona António Rios Amorim. “Estaríamos a falar de um contributo bastante significativo para o crescimento de Portugal, permitindo-nos competir com outros mercados altamente competitivos.”
A Business Roundtable Portugal é uma associação constituída por 42 líderes de alguns dos maiores grupos nacionais e é presidida por Vasco de Mello. Foi criada em 2021.