Escolheram lugares remotos, abandonados no Interior e no Litoral e, fascinados pelo que encontram todos os dias, tentam tirar o melhor partido do que existe, com o objetivo de serem um exemplo para o mundo. Aprendem fazendo e optaram por uma vida sem grandes luxos. Algumas vezes ouvem que “tinham de ser os estrangeiros a fazer isto”, o que os encoraja. Sabem ultrapassar a burocracia portuguesa, que justificam como fazendo parte da socialização, e querem ensinar e transmitir o seu conhecimento pelo exemplo. Pioneiros, desenvolvem ideias de vanguarda, relacionadas com a conservação do ambiente e a sustentabilidade, influenciam mentalidades e têm um impacto na economia de um “Interior esquecido”.
A australiana Leyla Acaroglu, montou o Co Project Farm em Tomar. O casal de brasileiros Denis Hickel e Juli Moojen desenvolveu em Torres Novas uma rede de pequenos agricultores. Robin Teigland, professora na Universidade de Gotemburgo, o seu filho e o seu parceiro, querem ajudar os pescadores em Peniche. Rosie Peddle e o marido, Rob, ingleses de nascimento mas candidatos à cidadania portuguesa, estão a criar um jardim botânico no Barrocal Algarvio. Fomos ao seu encontro, em quatro pontos do País, e ficámos contagiados com a sua energia, os seus projetos e a forma como valorizam o que existe de mais português.
Sustentabilidade pelo exemplo
“Vive aqui algum inglês ou holandês?”, pergunta o motorista de uma carrinha de correio expresso, que está perdido no meio da aldeia Serra, à procura da tabuleta que diz Figueira Redonda, onde quer entregar correspondência à CO Project Farm. Quem nos recebe é o Puppy, o cão atrevido que Leyla Acaroglu adotou quando o encontrou perdido perto da sua quinta. Com 36 anos, esta líder mundial nas áreas de sustentabilidade (em 2016, a ONU condecorarou-a Champion of the Earth) passa em média uma semana por mês aqui.
A mentora e fundadora do Co Project Farm, que dá formações e faz palestras por todo o mundo, encontrou este espaço há cerca de dez anos, num site na internet e, depois de o visitar, a sua decisão foi imediata. Leyla procurava um “espaço rural abandonado que precisasse de amor e carinho” e depois de muita pesquisa entre Nova Iorque (onde detém dois outros negócios: a escola Unschool e a agência Disrupt Design), Itália e o Sul de França, encontrou este refúgio, perto da aldeia Serra, a cerca de 30 minutos de Tomar. Trata-se de um lagar com um olival, que estavam completamente abandonados, antes de serem renovados para Leyla criar um “brain spa para os otimistas criativos” e um “laboratório” para viver e aprender a explorar o design natural, sistemas de mudança, sustentabilidade e criatividade, com o objetivo de fazer uma mudança positiva no mundo. Alguns dos workshops da Unschool são dados aqui. “Experiências únicas de quinta para um estilo de vida contemporâneo e sustentável”, é como anuncia este projeto no seu site. “Todos os meus projetos visam experimentar e agir sobre como podemos viver de forma mais sustentável e contribuir na prática para termos um mundo melhor”, explica.

Além de alguns quartos, existem espaços de convívio (exteriores e interiores), um lago/piscina ecológica, salas de conferências e várias cozinhas que são “laboratórios” para ensinar a produzir conservas de todo o tipo, alimentos fermentados, como por exemplo a kombucha (uma bebida probiótica que resulta da fermentação do chá preto com folhas de chá da índia), cosmética natural, entre outros. Lá fora há galinhas, gansos, cabras e burros. “Ontem recebemos a visita de 20 pessoas, muitas nunca tinham comido uma refeição só vegetariana e aprenderam a cozinhá-la. Isto pode significar uma mudança no tipo de alimentação… Todos os workshops e experiências pretendem que pensem de forma diferente sobre as suas vidas e adotem o que ensinamos. Depois podem criar a sua versão do que encontraram aqui”, conta Leyla. “Gostaria que o conceito da Co Project Farm fosse agressivamente copiado no mundo inteiro, para se conhecerem novos sistemas de alimentação que protegem o solo e, ao mesmo tempo, dão origem a ambientes saudáveis”. explica Leyla “Não tem de ser chato ou hippie, e pode ser muito divertido”, explica a rir.
A Co Project Farm não vive “numa bolha” isolada no meio da serra só para os estrangeiros, e todos os últimos domingos do mês recebe, para almoçar, quem quiser visitá-la. Inclusive o construtor civil que tem trabalhado na recuperação da quinta nos últimos três anos, e já passou a comer “mais vegetais do que carne” desde que conhece Leyla. Além de trazer muitos dos desperdícios de obras feitas nos arredores para estes mesmos materiais serem recuperados. Toda a decoração apresenta detalhes de materiais que de forma prática foram reciclados, pois tudo faz parte da mesma filosofia: ser um exemplo real de como se pode viver de forma mais sustentável. “Trata-se de um trabalho de amor, e tenho como princípio criar modelos de negócios que são igualitários. Podemos desenvolver programas para executivos que pagam ou receber um vizinho que vem almoçar com um custo mínimo. Por outro lado, é um projeto social e, como recebemos voluntários, é importante ter um sistema de utilizador-pagador para financiar as iniciativas”, acrescenta Leyla, salientando que em Portugal existe ainda um estilo de vida que deve ser preservado e muitas oportunidades para se corrigirem algumas práticas.
Cooperar para criar mais valor
Quando encontrámos a Rua Casal das Carvalhas, que fica para lá de uma montanha, um simpático casal e o seu filho, Martim, receberam-nos com um delicioso chá de lúcia-lima, na sua moderna casa no meio da horta. Foi há sete anos que compraram um terreno em Torres Novas e o trocaram por Lisboa. A aventura no mundo agrícola começou “ingenuamente” e tudo foi acontecendo naturalmente, como nos contam Juli Moojen e Denis Hickel, de 41 e 44 anos. Este casal brasileiro, promotor da Quinta do Alecrim, dá cursos e vende cabazes hortícolas, apoiado por uma rede de pequenos produtores locais que aderiram à sua ideia. Com muita “comunicação”, Juli e Denis formam um “movimento com base científica” para mudar as mentalidades em relação à regeneração das dinâmicas ecológicas e mostrar como se pode viver de acordo com estes princípios.
Quando começámos o negócio em 2015, não existia um mercado biológico em Torres Novas, nem a consciência da importância de um tipo diferente de alimentação. Hoje, muitas das primeiras sopas dos bebés nesta cidade são feitas com os nossos produtos
Juli Moojen
“Quando começámos o negócio em 2015, não existia um mercado biológico em Torres Novas, nem a consciência da importância de um tipo diferente de alimentação. Hoje, muitas das primeiras sopas dos bebés nesta cidade são feitas com os nossos produtos”, explica Juli, responsável pela gestão dos clientes. Sempre quiseram gerar uma atividade económica à volta da Quinta do Alecrim, e começaram por vender os excedentes da sua horta nos cabazes e no mercado público da cidade. Em vez de se estabelecerem com uma filosofia competitiva, o objetivo era trabalhar em cooperação. Como queriam garantir mais variedade e frescura de produtos, convenceram outros pequenos agricultores a formar uma rede. Hoje já são cerca de 12 produtores. Alguns produtos podem vender-se o ano todo, como os cogumelos shiitake de uma pequena produtora de Ourém, e outros sazonalmente, como os espargos do agricultor de Tomar. “Há produtores a quem compramos e a quem também vendemos. O produtor de maçãs e peras das Caldas da Rainha tem também uma loja de produtos biológicos. Quando me entregam a fruta, eu entrego hortícolas. […] Estas relações dão muita força ao nosso projeto”, explica Juli.

Quando começaram a trabalhar no terreno de três hectares e certificado com o selo “biológico”, Juli recorda que “era um vale degradado, o solo tinha baixa produtividade e, além das oliveiras, não existia uma única árvore”. Hoje, desenvolvem aquilo a que chamam agricultura regenerativa. “Neste tipo de agricultura, o processo de cultivo tem como objetivo regenerar o solo e os ecossistemas. E engloba uma forte componente social e económica”, refere o jovem agricultor. Arquiteto de formação e doutorado em Pensamento de Sistemas Ecológicos, Denis aprende tudo o que sabe sobre as novas tendências em livros, na internet e através de contactos pessoais que estabelece com especialistas na área de sistemas de agricultura regenerativa e floresta alimentar.
Outra parte deste negócio são “os dias abertos” e os cursos que oferecem na quinta. “Quem nos visita são pessoas interessadas no tema e, em conjunto, acabamos por desenvolver outras iniciativas”, conta Denis. “Utilizamos as redes sociais e recebemos pessoas de todo o País que vêm conhecer o que estamos a fazer.”
A empresa Mendes Gonçalves, que tem a marca Paladin, recorre à consultoria de Denis para desenvolver produtos
Com as alterações climáticas e a perda da biodiversidade, as pessoas estão mais sensibilizadas para aprender. “Queremos ampliar a produção agrícola para testar noutra escala o que fazemos. Por outro lado, acredito que a economia que criamos pode funcionar para gerar um rendimento complementar para uma família local.” Sempre num processo de aprendizagem contínuo, os dois querem transformar a Quinta de Alecrim numa referência e apostam na agrofloresta para inspirar mais exemplos e criar um diálogo entre as grandes empresas e os pequenos produtores. A empresa Mendes Gonçalves, com sede na Golegã e que tem a marca Paladin, recorre à consultoria de Denis para desenvolver outro tipo de produtos e conquistar novos clientes. Apesar dos poucos exemplos nacionais de quintas que promovem esta via mais sustentável, Denis destaca o trabalho da Herdade do Freixo do Meio, localizada em Montemor-o-Novo.
“Existe um grande esforço para explicar o que estamos a fazer, pois muitos pensam que somos uns freaks.” Para Denis e Juli ainda existe falta de consciência do que são as verdadeiras questões ambientais “e não há vontade generalizada de desenvolver este tipo de agricultura na região, mas é importante que todos participem neste processo de aprendizagem”.
Rejuvenescimento regional com a tecnologia
Entrámos no armazém sem sabermos ao certo se era o local que procurávamos e, ao fundo, alguém estava a pintar uma parede, de saia e chinelos de praia… Robin Teigland é muito bem-disposta e é difícil adivinhar que tem 54 anos. Em 2015, veio fazer surf para Peniche com os seus filhos e apaixonou-se pela tradição e pelo estilo de vida da cidade. A professora de Gestão de Digitalização na Universidade de Tecnologia Chalmers, em Gotemburgo, na Suécia, decidiu apostar num espaço de coworking em Peniche.
O envolvimento emocional com o sítio é tal que, na sua apresentação do TEDx, se emociona quando fala do obsoleto modelo económico de Peniche e do que se pode fazer com os imensos recursos existentes. Norte-americana de nascimento, licenciou-se em Stanford, fez um MBA em Wharton, doutorou-se na Escola de Negócios de Estocolmo e trabalhou para empresas de capital de risco nos EUA, fez consultoria na McKinsey na Suécia e em Espanha…Hoje passa a vida entre quatro cidades (Gotemburgo, Oslo, Estocolmo e Peniche), mas um dos seus principais projetos principais é o Peniche Ocean Watch Initiative, com o qual pretende rejuvenescer esta comunidade costeira e restaurar a sua identidade com um modelo económico mais sustentável. “Não podia ficar sentada no meu escritório a escrever teses”, adianta Robin, eleita em 2017, 2018 e 2019 uma das mulheres mais influentes da Suécia nas áreas da tecnologia. O seu filho, Trond Gunnar Teigland, de 24 anos, e também mentor do projeto, convenceu-a a iniciar esta aventura entretanto, em vez de esperar “mais alguns anos”.

Depois da sua experiência pelo mundo, esta nómada digital (como se identifica) quer atrair jovens de todas as nacionalidades para o seu Ocean Tech Hub em Peniche, e aí desenvolver soluções relacionadas com os problemas dos oceanos. “Gosto de fazer parte da comunidade local e queria abrir um tech hub, um espaço onde poderia olhar para o futuro e tentar descobrir para onde vai a sociedade”, acrescenta Robin. “Não queria ser uma estrangeira que passava os meus dias fechada na piscina do condomínio. Adoro este país, adoro o mar e temos aqui muito potencial para proteger os oceanos. Na Suécia e na Noruega já não precisam da minha ajuda e seria chato, pois lá não tenho os mesmos desafios.” Aqui, há-os de sobra. “As comunidades costeiras estão em declínio, porque a pesca está a desaparecer. Como é que podemos rejuvenescer esta indústria com nova tecnologia? Será que os pescadores podem utilizar drones para encontrar peixe? E se em vez de pescarem peixe, pescarem plástico no mar?
Gosto de fazer parte da comunidade local e queria abrir um tech hub, um espaço onde poderia olhar para o futuro e tentar descobrir para onde vai a sociedade
Robin Teilang
A ideia é incorporar a Inteligência Artificial e a robótica nas competências de pesca destes profissionais e usar os seus barcos.” Recorrendo à economia circular do mar, adianta que “muitos se concentram no lixo que está à superfície dos oceanos e nós preocupamo-nos com o que está no fundo do mar. Com as novas tecnologias e os drones, podemos encontrar lixo que, depois de reciclado e combinado com outros materiais, como o grafeno e carbono, podem resultar num veículo autónomo ou numa motocicleta construída com uma impressora 3D. Quando um turista apanha um veículo feito deste lixo, não o pagará em euros, mas através da tecnologia blockchain e, assim, devolve à comunidade local e aos que estiveram envolvidos neste projeto, o seu valor”.
O Ocean Data Driven Innovation, um laboratório de informação sobre o mar, é outra das iniciativas em que Peniche vai participar em conjunto com outros países. Robin integrou Portugal nesta plataforma com a participação de Sérgio Leandro, o subdiretor da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar. “Ao envolver os cidadãos na recolha de informação para ser usada pela Ciência com vista a monitorizar o estado do oceano, estamos a educar a comunidade de surfistas e a promover um turismo sustentável”, explica Robin. No próximo outono, o Smart Ocean Network, outra iniciativa com a universidade local, irá receber empreendedores que vão promover ideias à volta das tecnologias ligadas ao oceano. Só a uma hora de Lisboa, o Ocean Tech Hub recebe hoje muitos jovens voluntários de todo o mundo, que juntam a vontade de fazer surf à criação e à inovação em prol de um futuro mais sustentável.
Valorizar a flora do interior
A quinta é fácil de encontrar e fica a poucos quilómetros de Silves. Quando, em 2004, foi viver para o Algarve, o casal de jardineiros ingleses Rosie e Rob Peddle surpreendia-se com o facto de os locais não valorizarem a flora mediterrânica e a sua diversidade. “Os portugueses são muito orgulhosos da sua comida regional, queijos, salsichas e bolos locais, mas no que diz respeito às plantas, acham que ‘é só uma erva daninha’”, lamenta Rosie. Entre outras motivações que apoiaram a criação do Jardim Botânico do Barrocal, esta foi uma delas: demonstrar como é que as comunidades de plantas podem funcionar em conjunto, e qual é a importância de cada uma. “Hoje em dia, as novas gerações gostam de ver e de perceber, na prática, como tudo funciona. Quando se dá a uma planta um nome em latim, esta deixa de ser uma erva daninha e passa a ser uma planta valorizada. Também ainda não existia no Algarve um jardim onde se apresentassem as plantas locais, designadamente as do Barrocal.”
Quando se dá a uma planta um nome em latim, esta deixa de ser uma erva daninha e passa a ser uma planta valorizada. Também ainda não existia no Algarve um jardim onde se apresentassem as plantas locais, designadamente as do Barrocal
Rosie Peddle
Com o objetivo de “divulgar este tipo de flora através da educação, do cultivo, da conservação e do reconhecimento da sua importância comunitária, ambiental e económica”, o Jardim Botânico do Barrocal pretende apresentar a conhecida biodiversidade desta zona ecológica algarvia, onde existem mais de 1 000 espécies e de 100 famílias botânicas. “Trata-se de um jardim educacional que está a ser construído desde 2017 e um dos seus temas principais consiste em praticar uma jardinagem sustentável, sem irrigação e com o mínimo de manutenção, recorrendo às plantas apropriadas.”

Outra das ideias relacionadas com este espaço é a de formar jardineiros profissionais, construtores de jardins e arquitetos paisagistas em relação à identificação de plantas nativas. “Se não conhecem estas plantas para as incorporarem nos seus projetos, vai ser difícil fazerem um jardim seco e natural, mas sustentável”, salienta a especialista.
Com outros cinco membros, Rosie criou há cinco anos a Associação de Plantas e Jardins em Climas Mediterrânicos (Mediterranean Gardening Association – Portugal). Esta associação, que integra uma rede mundial de outras organizações (Mediterranean Gardening International), tem como objetivo proporcionar a partilha de ideias, conhecimentos e práticas (sucessos e falhanços) para os amantes deste tipo de flora mediterrânica. Além de organizar duas feiras anuais de venda de plantas no Algarve (que atraem mais de 1 500 visitantes, sendo uma via para apoiar pequenos viveiros e criar receitas para a associação), promovem ainda uma conferência na qual se reúnem especialistas de várias partes do mundo, para partilhar conhecimentos. “Já recebemos muitos profissionais de horticultura e botânicos que desconheciam a flora especial do Algarve e ficam espantados com o que veem”, adianta a inglesa de 67 anos.
Contam com o apoio da Universidade do Algarve (que está a ajudar a compilar uma base de dados) e da Junta de Freguesia de Silves para “proteger este espaço especial na Europa e divulgar as plantas deste campo algarvio, que não tem sido alterado nos últimos 30 anos. E aqui ainda se conseguem encontrar exemplares de espécies únicas, como, por exemplo, uma das maiores populações de orquídeas selvagens”. Outra vertente passa por apostar num turismo motivado pelo tema da biodiversidade, que visita o Algarve fora de época. “Com o interesse crescente pelo ecoturismo, as plantas podem ser um recurso importante. Existem exemplos concretos no Algarve, como o Festival das Aves, em Sagres, que, em outubro, atrai muita gente para ver os pássaros que migram entre a Europa e África, e a Via Algarviana, que mostra aos turistas o Interior algarvio”, explica Rosie.
O espaço, com cerca de dois hectares, está integrado numa quinta orgânica (a Quinta das Sesmarias) detida por um dos membros da associação. Esta parceria confere a possibilidade de utilizarem o terreno durante dez anos, podendo ser comprado mais tarde pela mesma associação. “Por vezes, não é preciso muito dinheiro para realizar um projeto. Um grupo de voluntários com paixão pode fazer algo de diferente.”
Artigo publicado em agosto de 2019 na edição 424 da revista EXAME