Tsuyoshi Matsushita era ainda uma criança a viver nas ilhas Gotō quando ia a Nagasaki comprar coelhos anões holandeses, que depois criava em casa e vendia aos vizinhos. Se fez algum dinheiro durante o tempo em que a espécie era novidade entre os amigos, a veia de empreendedor nunca mais o deixou. Por esse tempo, recordou anos mais tarde, perguntou ao professor qual era a maior empresa japonesa e onde estava instalada. Toyota, em Nagoya, respondeu-lhe. E foi por isso que aos 23 anos escolheu exatamente aquela cidade para lançar a sua primeira empresa, inicialmente com três funcionários.
Seria também a experiência vivida na infância – escolas e parques a fechar por falta de crianças e a população envelhecida a aumentar serviam de amostra das transformações demográficas que o Japão estava a experimentar – a condicionar a decisão de se concentrar no nas áreas da beleza, saúde e bem-estar, que vieram a ser a base do grupo empresarial de Matsushita, como o gestor de 48 anos contava ao site Growth Japan em maio do ano passado.
“Temos muitos sonhos”, lê-se na entrada do site da MTG, a companhia hoje avaliada em 1 940 milhões de euros e especializada no desenvolvimento de marcas “made in Japan” que, duas décadas depois da fundação, conta com um portefólio extenso de mais de uma dezena de insígnias, estendendo entretanto os seus domínios às tecnologias mais avançadas. Não é por isso difícil ver os seus produtos associados à inteligência artificial ou à internet das coisas.
Em julho passado culminou o seu caminho de diversificação (que inclui também uma empresa de distribuição de águas e de venda de almofadas e calçado ergonómico) com a chegada à bolsa de Tóquio. Nada mau para uma empresa que começou em 1996 a vender carros usados. No último ano fiscal registou uma faturação superior a 340 milhões de euros e tem agora operações numa dezena de países, esperando chegar à meia centena em 2020.
Internacionalmente o grupo é conhecido sobretudo pelos cosméticos e pelos dispositivos de eletroestimulação muscular que coloca no mercado – alguns, como o aparelho de facial fitness Pao (ver imagem acima), têm formas e aplicações inusitadas – e pelos quais estrelas internacionais aceitaram dar a cara. “Não o fazem só pelo dinheiro,” assegura Matsushita, que encontrou em Madonna e em Cristiano Ronaldo os dois maiores embaixadores dos seus produtos a nível global, além de dois “bons amigos”.
“Perguntei a várias pessoas se conheciam Madonna. Pensavam que eu estava maluco, mas houve alguém que conhecia alguém e, pouco depois, consegui chegar até ela,” relembra em entrevista esta semana à Bloomberg. Depois de várias interações com a “rainha da pop”, lançou em 2013 uma linha de cosméticos (MDNA Skin) com o aval e a imagem da cantora, sendo todos os ingredientes provenientes de Montecatini, em Itália. Sobre Madonna, diz que “encontrou o pequeníssimo diamante escondido na nossa empresa.”
No ano seguinte, o mesmo método e o mesmo resultado. Depois de muito procurar lá chegou à fala com o jogador português Cristiano Ronaldo e em 2015 saía a público um projeto de colaboração para representar o massajador facial ReFa Active. Mais tarde, Ronaldo viria a dar a cara por um outro produto, a Sixpad, um dispositivo de eletroestimulação para tonificar os músculos e que terá sido desenvolvido em articulação com o atleta. Nos últimos três anos, segundo a Bloomberg, o dispositivo vendeu mais de um milhão de exemplares, contribuindo para mais do que duplicar as receitas da empresa. Agora quer aumentar o número de ginásios que usam o produto que apenas requer – diz – 15 minutos de exercício por dia.
Criar e desenvolver produtos diferentes e inesperados está, diz, no mindset das empresas japonesas, mas o marketing e o branding não são pontos tão fortes, daí a aposta do seu grupo nestas duas componentes. Além de uma parceria com a chinesa Alibaba, abriram vários centros de investigação e desenvolvimento e já este ano intensificaram a presença na Europa, com a criação de empresas no Reino Unido e em França e de um grupo para a atividade no velho continente.
A ambição de Matsushita não tem barreiras. “A MTG é apenas um pequeno pintainho a sair de um ovo, vai fortalecer-se e vai voar. Vão ver,” pressagia ao Growth Japan. Até que a próxima geração tome conta da gestão, espera engordar o valor do grupo até 1 trilião de ienes (7,7 mil milhões de euros). É, segundo diz, uma missão destinada a devolver aos outros aquilo que recebeu: em bebé, conta, foi entregue a uma família que o acolheu e lhe “salvou a vida”.