Fortunato Frederico foi presidente da APICCAPS, associação dos industriais de calçado, durante 18 anos. Liderou a transformação de um sector tradicional, de mão de obra intensiva, numa indústria dinâmica, moderna, com design e tecnologia, orgulhosa de se apresentar ao mundo como “a mais sexy”. Ao mesmo tempo, liderou a criação da Kyaia, o maior grupo português de calçado, onde investe, em média, €1,5 milhões por ano.
Tem cinco fábricas, em Guimarães e Paredes de Coura, soma um volume de negócios de €65 milhões, mais de 50% dos quais na marca Fly London, emprega 600 pessoas e, aos 75 anos, continua a pensar em novos projetos para cumprir a ambição de duplicar as vendas até 2024 e garantir um lugar entre os cinco maiores produtores europeus de calçado. Exporta mais de 95% do que faz, tal como o sector que comandou até passar o testemunho a Luís Onofre, já em 2017.
Nos negócios, segue a receita de “um bom cozido à portuguesa”. Mistura “um pouco de tudo”, juntando “bons comerciais, bons produtos, boa resposta, boa relação qualidade-preço e bom design”, explica o empresário de Guimarães, galardoado com o Prémio Excelência na Liderança, atribuído pelo Expresso e pela revista “Exame”.
Foi a varrer o chão da Fábrica de Calçado Campeão Português que aprendeu a gostar de sapatos e começou a sonhar com a sua própria empresa. Lutou pelo sonho, sem esquecer o conselho da mãe, habituada às dificuldades da vida: “Nunca gastar mais do que se ganha.” E venceu.
Na tropa, onde ficou “quatro anos, um mês, um dia e duas horas”, aprendeu o valor da disciplina, o respeito pelas hierarquias, o dever para com os camaradas. O jovem que deixou o seminário aos 14 anos, depois de ouvir o padre Sabino dizer que “era rebelde demais para aquilo”, cumpriu o serviço militar em Angola, perto de Kyaia, a terra que deu o nome à sua empresa.
Na juventude, aceitou correr o risco de distribuir livros de esquerda proibidos pela censura. Antes de ser empresário, ainda trabalhou numa empresa de máquinas e chegou a estar alguns meses desempregado depois do 25 de Abril.
Quando defendeu a subida do salário mínimo, em 2010, para contrariar o abrandamento da economia, e a Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) não aceitou a medida, decidiu passar a dar um prémio aos seus trabalhadores em função dos lucros e da assiduidade. Começou nos €350. Está nos €750.
Recordes e investimentos
O último ato público de Fortunato Frederico como presidente da APICCAPS teve a ver com salários e com a igualdade de género: a associação industrial assinou um novo contrato coletivo do sector com a federação de sindicatos FESETE para consagrar igualdade remuneratória entre trabalhadores que desempenham funções do mesmo nível de classificação.
Mas, na história do sector, a imagem de marca que fica dos últimos 18 anos sob a sua liderança é a metamorfose da fileira. Muitos disseram estar condenada e acabou por ser apontada como exemplar. Depois de vender €1,923 mil milhões em 150 países, no ano passado, esta indústria está à beira de fechar 2017 com o seu oitavo recorde consecutivo na exportação.
Em 10 anos, as vendas de sapatos portugueses no exterior cresceram mais de 60%. O preço médio de um par à saída da fábrica, para exportar, aumentou 30%, e Portugal passou a estar no mercado com o segundo valor mais alto entre os principais produtores mundiais de calçado.
O sucesso, diz Fortunato Frederico, “deve-se à proatividade dos industriais que modernizaram as fábricas, à colaboração dos meus trabalhadores, às políticas públicas desenvolvidas, à aposta nas feiras, na produção com qualidade, na inovação”. Ele tem “a satisfação do dever cumprido”. Acredita que a Kyaia foi “uma boa lebre” num sector que assumiu sem complexos o objetivo de ser a grande referência internacional do calçado do ponto de vista tecnológico. Para isso, o foco foi colocado na investigação e desenvolvimento. Surgiram mais de 100 equipamentos made in Portugal, alguns dos quais são exportados para o resto do mundo. Apareceu a capacidade de resposta rápida, mesmo para pequenas séries. No radar entraram novos mercados, privilegiando nichos de valor acrescentado.
A Kyaia calça o mesmo modelo da fileira. Aposta nas vendas online, na resposta a encomendas de sapatos personalizados em 24 horas, na tecnologia, em projetos como o SmartSL 4.0 — Smart Stiching Logistics, que resulta de uma parceria com o INESC Porto — Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, para assegurar a “gestão ágil e flexível” de linhas de costura na produção de calçado, incorporando “algoritmos avançados”, com ganhos de competitividade e potencial de comercialização.
Na Quinta Eira do Sol, Fortunato Frederico está no turismo e na vitivinicultura. No centro de Guimarães, tem em curso um projeto de alojamento local. Em carteira há um novo projeto, apresentado apenas como “um submarino programado para emergir no próximo ano”. Na Fundação Oliveira Frederico, que criou com o objetivo principal de estudar a doença bipolar, decidido a “pensar para lá da família”, quer premiar os melhores alunos de Donim, onde aprendeu a ler, Penselo e Paredes de Coura, onde tem as fábricas. Porquê? Porque a primeira vez que entrou no cinema foi com um prémio recebido na escola primária.
ACERCA DE
MORTE DO FILHO
“Pensei em largar tudo e ir para África, para ser missionário. Acabei por dar a volta com o apoio da minha mulher e do padre Sabino”
PASSAGEM PELO SEMINÁRIO
“Foi uma escola de vida. Deu-me formação humanista. Foi lá que aprendi os valores
da fraternidade,
da humildade, da sensibilidade social”
INDÚSTRIA DO CALÇADO
“No espaço de duas décadas sofreu
uma verdadeira metamorfose. Evoluiu para uma indústria moderna, voltada para o exterior, altamente competitiva”
Brisa O&M é a Empresa do Ano pela terceira vez seguida
A subsidiária da Brisa foi a melhor entre 13 grandes empresas distinguidas pelo seu desempenho. Pingo Doce, Navigator Tissue Ródão e MEO receberam prémios especiais
Gestão e monitorização diária dos 1600 quilómetros de autoestradas concessionadas à Brisa, 122 portagens e 207,8 milhões de transações, com a Via Verde a assegurar 74,7% do total. Estes são alguns números da Brisa Operação & Manutenção (O&M) que, pela terceira vez consecutiva, foi distinguida como a Empresa do Ano entre 13 grandes companhias premiadas pela revista “Exame”, em parceria com a Deloitte e a Informa D&B, em cada um dos 13 mercados analisados.
Foram ainda atribuídos três prémios especiais ao Pingo Doce (maior contributo para o Emprego), à Navigator Tissue Ródão (maior e melhor exportadora) e à MEO (maior valor acrescentado).
Os vencedores da 28ª edição dos prémios 500 Maiores &Melhores Empresas em Portugal (500 M&M) foram conhecidos esta terça-feira, numa cerimónia que decorreu no edifício-sede da Caixa Geral de Depósitos (CGD), em Lisboa (ver quadro Galeria dos Vencedores). As empresas foram distinguidas com base numa análise objetiva de diversos indicadores financeiros e operacionais, relativos ao exercício de 2016.
O segredo da Brisa O&M — que assegura a vigilância e patrulhamento das autoestradas, bem como a cobrança das taxas de portagem e a manutenção técnica das infraestruturas — foi o aumento da eficiência com que a empresa utiliza a tecnologia digital para gerir a infraestrutura física que serve de suporte ao seu negócio. E que possibilitou um aumento dos lucros de 22,3%, para €31,6 milhões, bem acima do crescimento de 1,6% registado no volume de negócios, para €117,9 milhões.
Estagnação marca 500 M&M
O fraco crescimento das vendas da Brisa O&M espelha bem a evolução do negócio das maiores empresas no país em 2016. Em conjunto, o volume de negócios das 500 M&M aumentou apenas 1,1% face ao ano anterior, voltando a desacelerar face aos 2,2% de incremento anual em 2015 e aos 3% registados em 2014.
Um abrandamento nas vendas das maiores empresas explicado pelas exportações. A desagregação por mercados mostra um aumento de 4,9% nas vendas para o mercado interno, enquanto as vendas ao mercado externo recuaram 5,5% penalizadas, sobretudo, pelos produtos energéticos.
A evolução dos lucros também foi muito modesta. Em conjunto, as 500 M&M alcançaram resultados líquidos de €5 mil milhões em 2016, crescendo apenas 1,4% face a 2015.
Neste contexto de quase estagnação das vendas e dos lucros, e com a rentabilidade em queda, o emprego nas 500 M&M cresceu apenas 0,9% (mais 4100 trabalhadores), para 452.830 pessoas. Desta forma, as maiores empresas representaram 9,7% da população empregada em Portugal no ano passado.
Também há notícias positivas. O endividamento das 500 M&M (medido pelo rácio entre o total do passivo e o total do ativo) recuou em 2016, para 74,9%, prosseguindo a tendência de desalavancagem iniciada em 2015.
Galeria das Vencedoras
Energia e Recursos: Prio Biocombustíveis
Materiais de Base: Repsol Polímeros
Construção e Imobiliário: Roca
Metalomecânica e Equipamentos: Ferpinta
Tecnologia, Media e Telecomunicações: Altice Labs
Transportes e Logística: Brisa O&M
Alimentação, Bebidas e Tabaco: Tabaqueira II
Textêis, Vestuário e Couro: Petratex
Automóvel: Continental Mabor
Consumo e Serviços Comerciais: Aquinos
Saúde: Hovione Farmaciência
Turismo, Restauração e Lazer: Vila Galé
Serviços Profissionais: Teleperformance Portugal
Santander Totta e BIG: de novo, os melhores
Com os prejuízos de regresso à banca, Santander Totta e BIG distinguiram-se pelo seu desempenho. Nos seguros, o destaque foi a Fidelidade
Não foi um ano fácil para a banca. Depois do regresso aos lucros em 2015, em 2016 o sector ficou de novo no vermelho carregado. Os prejuízos ultrapassaram €1,2 mil milhões, com muitas instituições a procurar limpar os balanços para o futuro, com o reconhecimento de elevadas imparidades. E a venda do Novo Banco ao fundo Lone Star e a tomada de controlo do BPI pelos catalães do CaixaBank, ações concretizadas em 2017, começaram-se a desenhar ainda no ano anterior.
Neste contexto difícil, o Santander Totta e o Banco de Investimento Global (BIG) distinguiram-se e foram premiados como os melhores do ano no sector, nos galardões Banca & Seguros, atribuídos pela revista “Exame”, em parceria com a Informa D&B e a Deloitte. Uma distinção que recebem há vários anos consecutivos.
Na cerimónia realizada esta semana, na sede da Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa, o Santander Totta, liderado por António Vieira Monteiro, arrebatou todos os prémios para os bancos de grande dimensão: Melhor Grande Banco, o mais rentável, o mais sólido e o que mais cresceu. Quanto ao BIG, fundado por Carlos Rodrigues, foi distinguido como o mais sólido, além de arrebatar o galardão de melhor banco do ano, na classe dos bancos de média e pequena dimensão.
Receita para o sucesso? “Uma política de risco e análise de crédito criteriosa, uma política de recuperação do malparado ativa e um cada vez maior cuidado no atendimento aos clientes, sejam eles particulares ou empresas”, disse António Vieira Monteiro à “Exame”. Já o BIG mantém o foco no capital e Carlos Rodrigues revela que “o sucesso do banco, em termos de solidez, deve-se ao facto de privilegiarmos o investimento em ativos com muita liquidez”.
Entre os bancos de média e pequena dimensão, destaque ainda para o BNP Paribas Personal Finance (que opera sob a marca Cetelem) que recebeu o prémio de mais rentável, e para o Banco de Negócios Internacional (Europa) distinguido como o que mais cresceu.
Reforço da concentração
A vaga de fusões e aquisições no sector dos seguros voltou a ser a tónica em 2016. Num ano em que os resultados recuaram de forma significativa, para €82 milhões segundo os dados da Associação Portuguesa de Seguradores, a compra da Açoreana pela Tranquilidade (detida, por sua vez, pelo fundo Apollo) foi a operação mais significativa.
Neste sector, o grande destaque entre os premiado pela “Exame” vai para a Fidelidade. A companhia, detida pelos chineses da Fosun e liderada por Jorge Magalhães Correia, venceu numa dupla frente, arrebatando os galardões de Melhor Grande Seguradora Vida e Não Vida. Já na categoria de média e pequena dimensão, a Groupama Seguros de Vida recebeu o prémio de Melhor Seguradora Vida, enquanto a Crédito Agrícola Seguros foi distinguida como a Melhor Seguradora Não Vida.
Textos originalmente publicados no Expresso de 23 de dezembro de 2017