“Não ignoramos que há desafios importantes pela frente. Temos de dissociar o crescimento económico das nossas emissões de gases com efeito de estufa. Mas dissociá-lo de matérias-primas e transformar a forma como produzimos e consumimos é um desafio ainda maior”, afirmou João Galamba, durante uma intervenção esta manhã, no campus da Nova SBE, em Carcavelos. “A solução está numa visão circular da economia e promoção de crescimento sustentável, assente na redução, reutilização, recuperação, regeneração e reciclagem.”
O secretário de Estado do Ambiente e da Energia participava na mais recente edição da ESG Talks – uma iniciativa do Novobanco, em parceria com a PwC, a NOVA SBE, a EXAME e a VISÃO, onde destacou as várias iniciativas colocadas no terreno com vista à promoção de “um novo modelo económico, social e ambiental, assente na circularidade e na descarbonização”.
Enquadrado na sustentabilidade ambiental, o tema da sessão era a economia circular e a reciclagem. João Galamba usou parte da sua intervenção para destacar o papel da contratação pública. “Não há quaisquer dogmas políticos subjacentes. As compras públicas ecológicas permitem poupanças significativas para as entidades públicas, ao longo do ciclo de vida de um contrato”, sublinhou, explicando o seu poder de influência, ao incentivar as indústrias a desenvolverem tecnologias e produtos mais ecológicos, “promovendo processos de co-inovação, principalmente quando os adquirentes públicos têm uma quota de mercado significativa, como serviços de saúde e educação”.
Embora lembrando a importância da digitalização, o governante focou-se ainda na importância do “eco-design”, com o objetivo de aumentar “a reparabilidade, durabilidade e reciclagem dos produtos”. “Substituição de matérias-primas críticas por não críticas, redução de embalagens e incentivos à reutilização de produtos, componentes e materiais”, acrescentou. “Se pensarmos que 80% do custo de uma embalagem é definido no design, fica demonstrada a viabilidade do eco-design.”
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Na intervenção que o antecedeu, Luísa Soares da Silva, administradora executiva do Novo Banco, lembrou que a guerra na Ucrânia expôs de forma ainda mais dramática a dependência europeia de vários recursos, como o petróleo e o gás natural, o que torna “a adoção de um modelo de economia circular ainda mais premente”.
Essa transição exigirá investimento, inovação e mudança de comportamentos. Mas é também uma oportunidade para “reinventar a economia”, referiu a administradora. Do lado da banca, Luísa Soares da Silva garantiu que “o setor financeiro tem o dever de colaborar e apoiar os projetos de empresas que contribuam para a passagem de um modelo linear para circular”.
Após esta dupla abertura, a primeira intervenção ficou a cargo de Luís Veiga Martins, associate dean for community engagement and sustainable impact da NOVA SBE, que notou como os nossos hábitos de consumo e produção não mudaram o suficiente. “Ainda usamos muito o caixote do lixo. Começamos a reciclar, mas a reciclagem de alguns materiais não é infinita”, notou. “A economia circular procura otimizar os recursos e mantê-los em ciclos produtivos pelo máximo de tempo possível. Não estamos só a falar de resíduos, mas também de água e energia.”
O responsável da NOVA destacou ainda o papel de um consumidor cada vez mais informado, “que coloca muito mais pressão sobre as empresas”. Ao mesmo tempo, os gestores vão sendo obrigados a dar mais atenção ao tema. Relatando uma conversa com um representante de uma plataforma norte-americana de economia circular, Luís Veiga Martins perguntava-lhe se as empresas sabiam o que eram os SDGs (objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas). “Ele disse que não. E os ESG [critérios ambientais, sociais e de governança corporativa que analistas e investidores usam para avaliar empresas]? Ah isso sabem. Por isso, quando entra no bolso, na atividade financeira, na performance, as empresas são mais sensíveis.”