“A sustentabilidade ambiental representa, de facto, uma vantagem competitiva para as empresas”, admite António Saraiva. O Presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal alerta, no entanto, para o facto de só empresas competitivas e geradoras de riqueza terem condições para prosseguir o ambicioso caminho da inovação e transição para uma economia mais verde, sustentando ao mesmo tempo o nível de emprego.
O responsável, que encerrou a mais recente edição da ESG Talks – uma iniciativa do Novo Banco, em parceria com a PwC, a NOVA SBE, a EXAME e a VISÃO, com o objetivo de discutir os desafios da sustentabilidade ambiental, social e governança corporativa – nota que “temos hoje, ao nível europeu, uma agenda muito ambiciosa”. “A questão não é se essa transformação é necessária, mas como a tornaremos bem-sucedida”, salientando a necessidade de contrariar a ideia de antagonismo entre crescimento e ambiente.
Para o sucesso da transição ecológica na Europa, António Saraiva destaca a necessidade de uma base industrial forte, mas também a exigência de simplificação das normas: “A complexidade regulatória é, de facto, inimiga da inovação. (…) Infelizmente muitas iniciativas legislativas, a nível europeu, tendem a aumentar a complexidade regulatória e a introduzir exigências injustificas às empresas”. O dirigente critica a proposta de diretiva sobre o dever de diligência das empresas em matéria de sustentabilidade, que alarga as obrigações a toda a cadeia de valor (a montante e a jusante), “esquecendo o legislador que as cadeias de valor onde as empresas atuam estão, muitas vezes, fora do seu controlo”. E adianta: “Não será certamente com base em sistemas ineficientes, baseados em expectativas irreais sobre as empresas que se alcançarão os objetivos pretendidos”.
Sobre o financiamento da transição verde, o Presidente da CIP afirma a necessidade de financiar os esforços das empresas para a transição – não esgotando recursos apenas em empresas que já cumpram determinados critérios – lembrando que as dificuldades no financiamento da atividade empresarial em Portugal continuam a constituir um sério constrangimento à necessária mudança estrutural da economia.
Neste contexto, apela à capacitação do Banco Português de Fomento para a sua missão de dinamizador da diversificação de instrumentos e fontes de financiamento e de capitalização das PME e destaca a importância de assegurar que as linhas de capitalização, previstas no PRR, cheguem efetivamente às empresas. Recorda as críticas já feitas à alocação de fundos europeus que, segundo o responsável, não refletem a prioridade “que deve ser dada às empresas” e lembra os números: Na dimensão da transição climática, as empresas absorvem pouco menos de €1.000 milhões, “o que não chega a um terço da dotação deste eixo”.
António Saraiva termina afirmando o compromisso das empresas com os desafios atuais e futuros, afirmando que “apesar de toda a adversidade, a iniciativa privada está viva, dinâmica e empenhada em participar na recuperação e transformação da economia. Está empenhada, também na dimensão verde desta transformação”.