Sempre que Rita Fradinho tem uma crise de hipoglicemia – os níveis de glicose (açúcar) no sangue descem abaixo dos 70 mg/dl – sente tonturas, suores e dormência nos pés e nas mãos. Muitas vezes, os sintomas são acompanhados também por dores de cabeça e uma sensação de “fome desproporcional à altura do dia”. Nesse momento, pára o que está a fazer e procura solucionar a descompensação. “Se for abaixo de 60 mg/dl, paro a bomba infusora de insulina e tomo açúcar. Espero dez minutos e volto a repetir o teste da glicemia. Se se mantiver abaixo de 60 espero mais 15 minutos e volto a fazer o teste”, conta Rita, de 28 anos, que sofre de diabetes tipo 1.
Rita faz parte do grupo de mais de um milhão de portugueses que sofre de diabetes, uma doença caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue e que, em alguns casos, obriga à administração de insulina. Para evitar crises de hipoglicemia, procura programar ao máximo o seu dia-a-dia. “Muitas vezes são as pessoas que me conhecem que detetam os primeiros sinais”, conta Rita, sublinhando a importância de um controlo antecipado.
O ideal é que estas situações de descompensação nunca aconteçam. Este é o mote da campanha “Hipoglicemias. Uma já pode ser demais”, uma iniciativa da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, da Federação Portuguesa de Associações de Pessoas com Diabetes, da Sociedade Portuguesa de Diabetologia e da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo, com o apoio da Novo Nordisk. A campanha, que pretende sensibilizar as pessoas com diabetes – tanto do tipo 1 como do tipo 2 – para as hipoglicemias, defende que estas não devem ser vistas como uma consequência natural da diabetes, mas sim como algo que se pode prevenir e lidar com a ajuda dos especialistas e com a adoção de hábitos saudáveis, uma vez que acarreta riscos para a saúde e para o bem-estar. Saiba por que é que a prevenção é tão importante.
Maior risco de doença cardiovascular
As pessoas com diabetes tipo 2 têm 2,7 vezes maior risco de morrer por acidente cardiovascular após um episódio grave de hipoglicemia. “Se um indivíduo estiver a ter uma hipoglicemia e não for tratado, a falta de glicose no cérebro pode levar à morte. Hipoglicemias repetidas podem levar à instalação de quadros de demência, de perturbações mentais e alterações cognitivas profundas e, por isso, as hipoglicemias devem ser evitadas”, explica Davide Carvalho, médico endocrinologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo (SPEDM), sublinhando que “não há um número ótimo de hipoglicemias, o número ótimo de hipoglicemias é não ter”.

Idas mais frequentes ao hospital
A hipoglicemia, que pode ser causada pela alimentação, pelo exercício físico não programado e por desajustes na medicação, entre outros fatores, é a segunda maior causa de ida às urgências hospitalares das pessoas com diabetes em Portugal. Além disso, o tratamento de um episódio grave tem um custo elevado (superior a 1.450 euros por episódio).
Tratamento desadequado
Uma grande parte das hipoglicemias não é solucionada da melhor forma. Segundo um estudo da APDP (Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal), 6 em cada 10 episódios de hipoglicemia em doentes com diabetes tipo 2 não foram tratados adequadamente. Mais de metade das pessoas com diabetes (55%) nunca ou raramente informam o médico sobre os episódios de hipoglicemia e muitos acabam por reduzir a dose de insulina por sua iniciativa, o que compromete o controlo glicémico.
Preocupação e ansiedade
A diminuição dos níveis de açúcar no sangue não acarreta apenas riscos para o doente. De acordo com o estudo Talk-Hypo, até 64% dos familiares das pessoas com diabetes sente preocupação e ansiedade em relação aos riscos associados à diminuição de açúcar no sangue. Segundo a mesma pesquisa, 76% acredita que ter conversas sobre o tema com a família e os amigos pode melhorar a vida dos doentes.