Donald Trump é Presidente dos EUA há dois meses e meio e, se bem se recordam, ganhou as eleições há mais de 150 dias. Para além disso, nunca escondeu, ao longo dos anos, quais seriam as suas medidas e planos a partir do momento em que conseguisse voltar a sentar-se na cadeira principal da Casa Branca. Anunciou que iria perseguir os opositores e proteger os que lhe fossem leais. Sempre disse que, quando quisesse (ou lhe apetecesse…), iria rasgar as alianças ou compromissos assumidos pelos seus antecessores. E nunca escondeu que iria utilizar as tarifas aduaneiras como arma principal de combate para destruir a ordem global em que vivemos. Até anunciou, com antecedência, o dia e a hora em que o iria fazer.
O extraordinário é que, depois de tudo isto, ainda há quem diga – pior, que o assuma publicamente! – estar surpreendido com a saraivada de tarifas (calculadas de forma trapalhona ou puramente irresponsável), anunciada por Donald Trump na noite de quarta-feira, que lançou, nas horas seguintes, o pânico nos mercados bolsistas, com a bolsa de Wall Street, por exemplo, a registar os piores resultados desde os primeiros dias da Covid-19.
Percebem-se as reações, mas não se podem compreender as estupefações. Os governos e os investidores dos mercados deviam estar mais do que prevenidos sobre o que iria suceder. Ao contrário do que aconteceu a 24 de outubro de 1929 (o crash da bolsa que deu início à Grande Depressão) e a 15 de setembro de 2008 (a falência do Lehman Brother, que conduziu à crise financeira global), desta vez todos sabiam – ou deviam saber… – que uma nova era ia iniciar-se a 2 de abril. E o que se exige a quem nos governa ou gere o nosso dinheiro é que se prepare, antecipadamente, para os riscos e ameaças que não só se adivinham como, neste caso, foram previamente anunciadas.
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