Quase um ano e meio após o início da pandemia, é a exaustão emocional que leva as pessoas a cederem ao convívio, a esquecerem por momentos o uso de máscara e a facilitarem o regresso à normalidade, principalmente, de cada vez que as medidas são aligeiradas pelas normas do Governo. Na verdade, “os amigos são mais importantes do que os medicamentos”, como lembra Henrique Lopes, especialista em Saúde Pública.
A fiabilidade do teste rápido, normalmente com o resultado obtido ao fim de 15 a 30 minutos, varia muito. “Depende da taxa de exatidão do teste, de quem o faz e se foi recolhida a amostra corretamente”, explica Henrique Lopes. “Uma coisa é ler as instruções, outra é ter a mão humana com formação treinada.”
A fiabilidade da colheita “pode chegar a influenciar o resultado em mais de 20%”, explica Gonçalo Órfão, coordenador nacional de emergência e médico responsável pelo programa especial de testes da Cruz Vermelha Portuguesa. Quer a colheita para o teste seja feita com zaragatoa nasofaríngea (vai até ao fundo do nariz, a que tem melhores resultados, a mais recomendada), nasal (menor sensibilidade) ou de antigénio de saliva (facilmente alterada pela alimentação do dia-a-dia), a mão humana, o local onde é feita e a maneira como é feita interessa. “Temos de conseguir alcançar a zona interior do nariz”, alerta o médico.
Mesmo no teste mais fiável de todos – que não existe, pois nenhum tem 100% de fiabilidade – há um risco à entrada da festa e no tempo em que as pessoas lá permanecem. “A Covid-19 tem uma evolução inicial muito rápida. Mesmo com um teste negativo à porta da festa, nas 12 a 24 horas seguintes a pessoa pode desenvolver a doença”, explica Gonçalo Órfão. “Quanto mais perto da entrada no evento fizermos o teste, menor é o risco de se tornar contagioso para as pessoas, porque é possível ontem estar negativo e hoje positivo.”
Os testes rápidos de pesquisa de antigénio baseiam-se na identificação de um antigénio (a proteína spike do vírus) como forma de detetar se ele está presente ou não no nosso corpo. Em princípio, têm uma menor sensibilidade do que os testes moleculares (PCR), particularmente quando a carga viral é mais baixa. Segundo explicação no site da Deco, “em Portugal são aceites os testes de antigénio que apresentem uma sensibilidade igual ou superior a 90% e uma especificidade igual ou superior a 97% (comparativamente com os moleculares). Já os auto-testes têm uma sensibilidade (capacidade de detetar pessoas infetadas) mínima de 80% e uma especificidade (capacidade de evitar falsos positivos) igual ou superior a 97 por cento.
Quanto mais fiável for um teste, menos horas precisa para detetar o SARS-CoV-2. Por exemplo, um teste molecular ou PCR detetaria hoje de manhã; o rápido de antigénio só à tarde e o auto-teste só amanhã, porque só deteta cargas virais mais elevadas.
Para Gonçalo Órfão, coordenador nacional de emergência e médico responsável pelo programa especial de testes da Cruz Vermelha Portuguesa, não há dúvida de que quantos mais testes rápidos de antigénio uma pessoa fizer, maior a diminuição de probabilidade de erro. “Equivale a fazer poucos testes moleculares ou PCR”, exemplifica.
E, uma vez que a doença avança depressa, “o rastreio de 15 em 15 dias ou de mês a mês tem uma eficácia reduzida”. “Repetir a cada três a sete dias poderá ser a fórmula ideal, pois deteta a doença na sua fase inicial, bem como a sua cadeia de transmissão. Fazer o teste de forma auto-didata é de extrema importância, mas não implica que se deixe de usar máscara e de manter a distância física”, acrescenta o médico da Cruz Vermelha Portuguesa.
Independentemente do número de pessoas presente na festa é preciso manter uma atitude alerta. Para Henrique Lopes, especialista em Saúde Pública, “a presença do vírus na sociedade e a probabilidade de nos cruzarmos com uma infeção mantém-se significativa.”
É necessário ter uma atitude integrada, ou seja, “há peças complementares e não alternativas que nos permitem ter comportamentos seguros. Mais importante do que fazer alguma coisa isoladamente – só fazer teste, só usar máscara ou só manter a distância – é ter uma ação integrada porque o vírus veio para ficar. E enquanto não houver medicação massificada para a Covid-19, temos de usar medidas integradas de defesa.”
A probabilidade de contágio pode ser cortada ou reduzida se as pessoas continuarem a usar máscara, a lavar as mãos e a evitar contactos físicos próximos para lá do necessário. “A probabilidade de sermos contaminados cai a pique, pelo menos, 90%”, assegura Henrique Lopes, especialista em Saúde Pública.
Conclusão
FALSO: Nenhum teste apresenta 100% de fiabilidade e com quantas mais pessoas nos cruzarmos, maior a probabilidade de sermos contagiados pelo coronavírus.
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