A ideia de ir para França surgiu através de um projeto pessoal, o HairCultProject, desenvolvido por Elisabete Maisão e uma amiga cabeleireira. Queriam contar a cultura do cabelo à volta do mundo e, ao mesmo tempo, ajudar quem mais precisa. Por essa razão, foram para Calais dar resposta a uma necessidade de muitos refugiados: cuidar do visual.
O plano era ficar quatro dias e voltar para Lisboa, mas não foi isso que aconteceu. “Ouvíamos muita coisa sobre Calais, que era perigoso e violento, particularmente para mulheres. Apesar disso, fomos”, conta à VISÃO Solidária.
No dia em que chegaram, começaram por espalhar a palavra de que havia cortes de cabelo grátis. Elisabete conta que o objetivo era melhorar o visual das pessoas do campo de Calais. A surpresa veio quando formaram equipas com refugiados que, nos seus países de origem, eram cabeleireiros: “Durante aqueles quatro dias, criámos uma relação com as pessoas. Convidavam-me para jantar nas suas tendas”.
No entanto, Elisabete conta que não se sentia útil e, por isso, decidiu ficar mais tempo como voluntária. “Quando vi tanta gente naquela condição tudo mudou para mim. Não sabia quanto tempo ia ficar”, confessa.
Regresso adiado
No campo de refugiados, a portuguesa fazia de tudo: ficava no armazém a separar roupa para ser distribuída, levava pessoas ao médico e chegou a dar aulas. “Muita gente tinha o meu número de telefone e, quando acontecia alguma coisa, ligavam-me a pedir ajuda”. No meio disto tudo, não esqueceu a fotografia porque “havia momentos que tinham de ser fotografados”.
Depois de um mês em Calais, surgiu o convite para ir fotografar outros campos de refugiados através de uma organização não governamental local, a L’auberge des Migrants. “Foi uma questão mais pessoal. Perguntaram-me se não queria fotografar e eu fui, adiando o meu regresso a Portugal”, recorda.
Através desta ONG, passou por Bruxelas, Alemanha, Áustria, Eslovénia, Croácia, Sérvia e Macedónia, até que chegou a Lesbos, na Grécia, local de desembarque na Europa para milhares de refugiados.
Fotografias solidárias
Ao volante de uma carrinha que transportava donativos, Elisabete viveu as situações mais marcantes da viagem: “Em Lesbos, conhecemos um grupo de jovens do Afeganistão a dormir na rua que não tinha dinheiro suficiente para ir até Atenas”. A fotógrafa e o representante da ONG decidiram pagar o transporte a estes refugiados até à capital grega. Era véspera de ano novo.
No dia seguinte, levaram-nos escondidos, ilegalmente, até ao campo grego de Idomeni. Elisabete mantém contacto com os jovens: “Alguns estão na Bélgica e outros na Noruega, todos a estudar ou a ir a entrevistas de emprego“. A fotógrafa ainda voltou a Calais antes de regressar finalmente a Portugal.
Agora, tem outro objetivo: leiloar as suas fotografias, uma iniciativa com o apoio da Studioteambox, uma galeria situada na LxFactory, em Lisboa. O dinheiro angariado irá ajudá-la a regressar ao campo de refugiados de Idomeni. “É uma questão de humanidade. Se o vizinho precisa de ajuda, como posso não o ajudar?”. O leilão decorre na sexta-feira, dia 22 de abril.