A decisão deveria ter sido conhecida hoje, mas o Tribunal de Lille anunciou o adiamento do veredito relativamente à intenção das autoridades franceses e britânicas de despejarem os residentes da parte sul do campo de Calais, em França, a partir do qual muitos refugiados tentar chegar ao Reino Unido, através do túnel do Canal da Mancha.
A deliberação deverá, agora, ser conhecida na quinta ou sexta-feira desta semana.
Enquanto isso, as autoridades locais continuam a instigar os refugiados a procurarem alojamento alternativo, como os contentores instalados noutras zonas do campo (haverá perto de 300 vagas) ou outros centros de acolhimento de refugiados em França.
No domingo, Jude Law visitou Calais num gesto de alerta para os riscos que correm as pessoas em risco de serem despejadas. O ator é o autor de uma petição que apela ao governo britânico para acolher algumas das crianças que vivem no campo e que têm família no Reino Unido.
De acordo com a organização Citizen UK, existem cerca de uma centena de crianças desacompanhadas no campo com direito a reunirem-se com a sua família residente no Reino Unido. Segundo a Help Refugees, o número total de crianças desacompanhadas deverá ascender às 400.
Entre as mais de 100 mil pessoas que assinaram o apelo de Jude Law estão, também, os atores Colin Firth, Gillian Anderson, Benedict Cumberbatch ou Helena Bonham Carter.
Espetáculo ativista
Durante a visita, Jude Law leu várias cartas com mensagens de alerta para o problema dos refugiados, algumas delas históricas, de autores como Albert Camus ou Maya Angelou, mas também foram ouvidas as palavras de artistas contemporâneos como Iggy Pop. As missivas foram traduzidas para pastum e árabe por voluntários do campo.
Também participaram no espetáculo o argumentista Tom Stoppard (também ele originário de uma família de refugiados que escaparam à invasão nazi da Checoslováquia), o ator Toby Jones, o cantor Tom Odell ou a comediante Shappi Khorsandi, que acompanhavam o ator britânico na visita.
A demolição de dois terços do campo corresponde à intenção das autoridades francesas e britânicas, que pretendem diminuir a capacidade de Calais para dissuadirem os refugiados de se dirigirem para lá, alimentando a esperança de conseguirem alcançar o Reino Unido. O objetivo das autoridades é estabilizar o número de residentes em 2 mil pessoas.
Atualmente, de acordo com os dados oficiais, vivem 3700 refugiados no campo. A ONG Help Refugees acredita que, na realidade, serão perto 5500. Também não há acordo quanto ao número de residentes na zona em risco de ser destruída, variam entre 800 a 3500 pessoas.
A zona sul do campo é, precisamente, o local com mais infraestruturas sociais, culturais e comerciais do terreno, como pequenas lojas, cozinhas comunitárias ou centros de apoio para crianças e jovens.
As autoridades francesas garantem que a expulsão será “progressiva” e “persuasiva”, respeitando a dignidade de todas as pessoas.
No final da visita, Jude Law não ignorou a complexidade da questão, mas afirmou acreditar que é possível encontrar soluções e, a primeira, seria juntar as crianças desacompanhadas aos familiares residentes no Reino Unido.