É por isso que o julgamento do norueguês que assassinou dezenas de jovens e planeou matar todo o Governo está a provocar mais estranheza do que repulsa. As pessoas não querem acreditar que o ser humano é capaz das maiores atrocidades e por isso tratam sempre a violência como se fosse um fenómeno esporádico.
Creio que será também uma das causas para que não haja uma diminuição mais sensível da violência no Mundo, porque não se adotam mais medidas preventivas e se continua a apostar essencialmente na punição que obviamente só tem lugar depois de haver crime, com vítimas concretas.
A propósito de um vídeo que circulou na internet mostrando uma rapariga de 17 anos portadora de deficiência a ser violada por sete homens na África do Sul, a BBC referiu uma pesquisa recente que dava conta de que um em cada quatro homens do País de Mandela confessava já ter violado uma mulher.
Apesar de no ano passado ter havido 66.000 queixas por violação na República da África do Sul, é óbvio que a grande maioria das vítimas não denuncia os crimes.
Este é o panorama em muitos dos Países do Mundo. Inquéritos de vitimação feitos nas últimas décadas têm concluído que mesmo nos Países em que seria improvável uma estatística tão desastrosa, como na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, um terço das mulheres inquiridas referiam ter sido durante a sua vida, de alguma forma, vítimas de violência sexual, aumentando esta percentagem se as pesquisas incluissem todo o tipo de violência.
Desde os anos oitenta que a Organização Mundial de Saúde considera a violência interpessoal o maior problema de saúde pública do Mundo, estimando que todos os anos 1,6 milhões de pessoas morram devido a ela, sendo na sua maioria mulheres e crianças.
Desde a Mutilação Genital feminina aos maus tratos conjugais, desde o abuso sexual perpetrado sobre as crianças à violência emocional e psicológica que compromete o bem-estar e o desenvolvimento saudável das vítimas, todos os dias somos confrontados com notícias que nos interpelam no sentido de adotarmos medidas que previnam essas condutas que tornam tantos seres humanos infelizes, com lesões físicas sérias de que por vezes resulta a morte.
Temos consciência que a contribuição de cada um pode não ser decisiva porque não detemos poder suficiente. O negócio da pornografia infantil como o do tráfico de pessoas move milhões de dólares por dia, mais do que o negócio das armas, mas penso sempre que podemos contribuir para uma maior censurabilidade de atos que se traduzem na violação de bens jurídicos fundamentais e creio que essa maior censura social permitirá uma diminuição desses verdadeiros atentados aos direitos humanos pelo menos junto daqueles que estão mais perto de nós.
A iniciativa que a Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Risco em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa e a Associação de Mulheres contra a Violência têm levado a cabo desde há três anos, assinalando Abril com um ciclo de cinema como Mês da Prevenção dos Maus Tratos na Infância, merece uma felicitação especial, tanto mais que associar entre nós o mês de Abril a mais esta causa nobre tem um significado ainda mais especial.
Nota: Na crónica anterior escrevi convencida que já tinha sido revogada a Lei da Adoção na Tunísia. Soube entretanto que afinal, apesar de anunciada, essa pretensão do Partido atualmente no Poder, ainda não foi concretizada. Faço votos para que a força da razão impeça essa verdadeira regressão. O direito das crianças a uma família que as ame deveria ser universal.