Aprimeira viagem que Tennessee Williams fez a Marrocos foi a Tânger, ficando em casa de Paul Bowles e da sua segunda mulher, Jane. Os três escritores americanos tinham-se conhecido uns anos antes, em Acapulco, no México, e a tolerância naquela cidade do Norte de África atraiu naturalmente o autor da peça Um Elétrico Chamado Desejo, que ali chegou em dezembro de 1948, com o seu companheiro da altura, Frank Merlo. Estava tanto frio que não deu para ele nadar no mar como gostava, mas ficou de tal maneira apaixonado que regressaria várias vezes. Quanto ao autor do romance O Céu que nos Protege, escrito em grande parte no deserto marroquino, nunca mais trocaria “Tânger, a Branca” por Nova Iorque.
Quase 80 anos depois, a também dita “pérola do estreito de Gibraltar” continua com uma identidade muito própria, destacando-se em Marrocos por esse seu je ne sais quoi que sempre fascinou escritores e artistas. Para os portugueses, ela tem ainda a vantagem da proximidade geográfica – numa linha reta, dista apenas 14 km da Europa, ensinam os compêndios e aprende-se ao fazer a rápida viagem de ferry a partir de Algeciras.
Deixe-se o carro em Espanha se a ideia for ficar por Tânger e arredores, aproveitando-se para conhecer a cidade a pé ou num dos seus petit taxi, azulinhos e baratos. Chegando à noite, após o check-in no centralíssimo e delicioso Hotel Chellah, jante-se no vizinho El Dorado, restaurante onde o escritor Mohamed Choukri costumava pedir espetadas, deixando a sobremesa para a geladaria Maison Glaces, na mesma rua. No dia seguinte, e após um pequeno-almoço com tudo a que um amante da gastronomia marroquina tem direito, beba-se um café (sempre acompanhado de garrafa de água) na esplanada do antigo Cinema Rif (hoje Cinemateca), antes das compras no Grand Socco. E se for sexta-feira, almoce-se ali perto, no restaurante comunitário da associação de mulheres Darna, porque é dia de couscous. A partir daí, é flanar pela cidade que até tem uma Rue Portugal e tudo.
Não perder O Jardim Botânico de Donabo, numa montanha sobranceira ao mar, na estrada para o Cabo Espartel
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