Luís tinha 12 anos quando cruzou os portões da sua nova escola. Durante aquele verão de 1989, lutara contra a impaciência pelo início das aulas do 7º ano. Agora, carregado com os livros às costas, caminhava pelos corredores, de olhos bem abertos, absorvendo tudo o que acontecia à sua volta. “Era o primeiro dia de aulas, e eu estava muito entusiasmado”, lembra. Sem aviso, um homem saiu-lhe ao caminho. “Você é Alves Caetano, não é? É da família de Marcelo Caetano?”, questionou-o. “Sim, senhor. É o meu tio-avô”, responderia a meia-voz. “Mas você não tem vergonha?”, gritou-lhe o adulto. A abordagem vinda de alguém que era professor (percebera isso imediatamente) deixara Luís sem reação. O homem virou-lhe as costas, até desaparecer numa esquina, mas a criança só passados alguns minutos conseguiu mover-se. O protagonista desta história com quase 35 anos é hoje o único político no ativo familiar de Marcelo Caetano. Nos 50 anos do 25 de Abril, o deputado do PSD Luís Newton conta à VISÃO como tem sido viver como “herdeiro” do último chefe de governo do Estado Novo.
“Aquele momento foi um ponto de viragem para mim. Senti-me intimidado, agredido. Nas reuniões familiares, quase nunca se falava de política. O nome de Marcelo Caetano estava presente, claro, mas sempre do ponto de vista familiar, descrito como um homem carinhoso e inteligente, um académico respeitado. Para mim, era apenas um parente que pertencia aos livros de História. O percurso político nem sequer era tema”, descreve.