Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, num jantar com jornalistas estrangeiros que vivem em Portugal, a propósito das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, que cortou laços com o filho, Nuno Rebelo de Sousa, devido ao polémico caso das gémeas brasileiras. Segundo o Presidente da República, as relações com o filho já estavam, antes disso, tremidas, apesar de não ter esclarecido os motivos, e este caso veio agravar a ligação com o filho, que vive no Brasil.
“É imperdoável, porque ele [Nuno] sabe que eu tenho um cargo público e político (…) Não sei se vai ser responsabilizado, não me interessa”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, citado por órgãos de comunicação brasileiros. “Ele tem 51 anos, se fosse o meu neto mais velho e preferido, com 20 anos, sentir-me-ia corresponsável. Mas com 51 anos, é maior e vacinado”, acrescentou.
No fim de novembro, o Ministério Público (MP) confirmou que estava a investigar o caso das gémeas de origem brasileira com atrofia muscular espinhal tratadas no Hospital Santa Maria com um dos medicamentos mais caros do mundo, o Zolgensma. Ao todo, o tratamento terá custado cerca de 4 milhões de euros ao Estado português.
A 7 de dezembro, depois de a TVI noticiar que Nuno se reuniu com o então secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, no Ministério da Saúde,para falar sobre este caso, o Presidente da República declarou, numa nota publicada nesse dia no sítio oficial da Presidência da República na Internet, não ter tido conhecimento de quaisquer diligências junto do Ministério da Saúde no caso das gémeas, após o envio do respetivo dossiê para o Governo, a 31 de outubro de 2019.
Já no início deste mês, Marcelo afirmou, durante uma conversa com jornalistas à saída do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, que “o Ministério Público considerou que era segredo de justiça” a documentação da Presidência da República sobre o caso das gémeas luso-brasileiras a quem foi administrado em Portugal o medicamento.
O chefe de Estado foi interrogado sobre a informação que dá conta de que o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) sobre o caso das gémeas refere que a Presidência da República não enviou, num primeiro momento, documentação solicitada por esta entidade. Na resposta, o Presidente da República referiu que “a Presidência da República enviou para o Ministério Público em dezembro toda a documentação” e que “o Ministério Público considerou que era segredo de justiça” e por essa razão não foi enviada à TVI nem à IGAS, que a solicitaram.
Aos jornalistas estrangeiros, contou agora que quando o filho, que é “teimoso”, recorreu a si para abordar uma “possível ajuda às gémeas brasileiras”, o Presidente seria, em breve, submetido a uma cirurgia ao coração, e o caso acabou por ser deixado de lado, até porque a própria Casa Civil da Presidência da República já teria negado o pedido de Nuno Rebelo de Sousa, que remonta a 2019 – ano em que houve eleições legislativas.
Meses depois, conta Marcelo, Nuno terá telefonado ao pai alegando que a Casa Civil estava contra ele. “Argumentei que não era possível”, disse ainda. “Passa-se 2020, 2021, 2022, vem 2023, e vem o caso. Foi preciso recorrer à tecnologia para recuperar as mensagens [que tinha trocado com Nuno]. Não me lembrava das gémeas”, afirmou.
O Presidente falou ainda da divisão familiar que este corte tem causado – Marcelo terá passado o Natal longe dos netos, para não se cruzar com Nuno, que terá por sua vez vindo para Portugal celebrar com a família. Apesar disso, referiu que “há coisas piores na vida”. “Foi um Natal bastante tranquilo e agradável”, acrescentou.
Na origem deste caso está uma reportagem da TVI, transmitida no início de novembro do ano passado, segundo a qual duas gémeas luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma para a atrofia muscular espinhal. Segundo o canal televisivo, havia suspeitas de que isso tivesse acontecido por influência do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que negou até agora qualquer interferência no caso.