A partir do México, onde se refugiara para escapar à prisão em Portugal, António Champalimaud continuava apostado em fazer crescer a sua imensa fortuna alicerçada nos cimentos e no aço. No início da década de 1970, o novo alvo do industrial era o apetecível Banco Português do Atlântico (BPA), a instituição do norte, liderada por Artur Cupertino de Miranda, que ambicionava ultrapassar em dimensão o Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL). A concretizar-se, a operação concentraria nas mãos de Champalimaud um terço do sistema bancário nacional, pois o empresário já controlava o Banco Pinto & Sotto Mayor. Em São Bento, assim que se soube do negócio, soaram campainhas de alerta.
As conversações entre António Champalimaud e Cupertino de Miranda para a venda de uma posição de 25% do BPA decorreram discretamente, durante os meses do verão de 1970, em luxuosos restaurantes e hotéis de Paris. Como o industrial estava a ser julgado à revelia no Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa, devido a uma queixa dos irmãos por apropriação indevida de parte da herança do tio Henrique Sommer, os locais e as horas das reuniões eram combinados apenas a escassas horas de se realizarem.