Começa a faltar tempo para conseguir impedir a catástrofe climática, mas não podemos desistir. Ainda é possível operar as transformações necessárias que permitam assegurar um futuro viável para a vida na Terra. Para isso, é preciso que as pessoas tenham acesso aos factos e à verdadeira realidade sobre o estado do planeta. Com esse objetivo, mais de uma centena de especialistas respondeu ao apelo da ativista sueca Greta Thunberg para criar um manual que nos ajude, a todos, a salvar o mundo – com informação rigorosa, ideias inovadoras e com base na melhor Ciência. De “O Livro do Clima”, agora editado em Portugal, publicamos dois ensaios – de Greta Thunberg e da dupla Thomas Piketty e Lucas Chancel – perturbadores, mas também inspiradores
Encaremos a realidade: a probabilidade de nos mantermos abaixo do aumento de 2 °C da temperatura global é muito reduzida. Se tudo continuar “na mesma como sempre”, o mundo encaminha-se para um aquecimento de, pelo menos, 3 °C até ao final deste século. Se mantivermos os níveis atuais de emissões globais, o orçamento de carbono, que nos resta para nos mantermos abaixo de 1,5 °C, esgotar-se-á dentro de seis anos. O paradoxo é que, ao nível global, o apoio popular às medidas climáticas nunca foi tão forte. De acordo com um inquérito recente das Nações Unidas, 64% da população mundial encara as alterações climáticas como uma emergência global. Então, o que tem corrido mal até agora? Existe um problema fundamental no debate contemporâneo sobre as políticas climáticas: raramente aborda a desigualdade. As famílias mais pobres, que emitem pouco CO2, anteveem corretamente maiores limitações à aquisição de energia. Já os decisores políticos temem represálias políticas, se impuserem medidas climáticas demasiado depressa. O problema deste círculo vicioso é que já nos fez perder demasiado tempo. A boa notícia é que podemos acabar com ele.