Criar o próprio negócio é uma aventura desafiante. Criá-lo numa língua que não é a nossa, num país estrangeiro, sob um regime de proteção temporária, com a pressão de, muitas vezes, ser a única fonte de rendimento do resto da família, pode tornar o desafio numa proeza hercúlea.
É esta a realidade de muitas das mulheres ucranianas refugiadas atualmente em Portugal, “perfeitamente capazes de criar um negócio, mas que, muitas vezes, acabam por não fazê-lo por não saberem bem por onde começar, já que vivem em Portugal nem há um ano e, muitas vezes, não falam português nem inglês”, assegura Olesia Malovana, uma das fundadoras da Ukranian Hub, uma organização que tem como missão apoiar startups e potenciar formação para novos empreendedores.
Olesia sentiu as dificuldades na pele quando, há sete meses, acabada de chegar ao nosso país teve de se adaptar a uma nova língua, novas leis, regras e processos burocráticos. Mas “a ocasião faz o ladrão”, diz o ditado. E assim foi.
Perante os desafios com que se deparou para conseguir abrir uma conta no banco, alugar uma casa ou estabelecer contactos a fim de continuar a desenvolver o seu negócio, a partir de Portugal, Olesia percebeu que era preciso encontrar uma forma de ajudar outras mulheres ucranianas refugiadas a navegar os mesmos processos de forma rápida e eficaz.
“Por não falarem português, muitas mulheres refugiadas estão a fazer trabalho voluntário em centros de apoio a refugiados ou então encontram-se a trabalhar abaixo das suas habilitações literárias, quando têm capacidade para, por exemplo, começarem os seus próprios negócios”.
Foi assim que nasceu a AmareloAzul, organização subsidiária da Ukrainian Hub, apresentada oficialmente quarta feira, 2 de novembro, na Websummit, que ajuda mulheres ucranianas refugiadas em Portugal a abrirem pequenos negócios. “Vivemos em regime de proteção temporária um ano, que se pode estender até dois. É demasiado tempo para ficarmos sentadas sem fazer nada, à espera que a situação na Ucrânia se resolva”, sublinha Olesia.
Olesia Malovana assegura que o programa permitirá às mulheres “criar uma fonte de rendimento para as suas famílias, contribuir para a economia local, retribuir às comunidades locais todo o apoio demonstrado desde o início da invasão russa e ajudar outros refugiados através da criação de postos de trabalho”.
O programa destina-se a “empresas pequenas, de padarias a estúdios de design, infantários ou salões de beleza”, e estará ativo a partir de janeiro de 2023. As candidaturas já estão abertas e Olesia explica que “serão selecionadas 40 mulheres que terão acesso a uma formação de três meses”.
Nesta formação, além de apoio jurídico e contabilístico, é dada mentoria nas áreas gestão, marketing, comunicação, vendas e estratégia. O objetivo é que as 40 selecionadas percebam a responsabilidade e implicações legais associadas a ter uma empresa.
Por agora, o programa destina-se à área de Lisboa, uma vez que a maioria das refugiadas econcentra-se nesta região. Porém Olesia gostaria de, no futuro, expandi-lo também para o Porto.