“Eu acho que foi um grande erro. [A Marilyn] era uma deusa, era simplesmente fabulosa. E o vestido foi feito para ela. Mais ninguém devia ser visto nele”, lamentou Bob Mackie, em entrevista à revista norte-americana “Entertainment Weekly”.
Com apenas 23 anos e em início de carreira, Mackie fez o primeiro esboço da peça, sob a orientação do designer Jean Louis, de quem era assistente. O resultado final foi um vestido comprido, justo, do tom da pele da atriz e modelo dos anos 50 e coberto com mais de seis mil cristais.
Marilyn Monroe vestiu-o uma única vez: em 1962, pouco tempo antes de morrer, quando cantou o célebre “Happy Birthday, Mr. President” (em português, “Parabéns, Sr. Presidente”), no 45º aniversário do então presidente dos Estados Unidos da América, John F. Kennedy. Em 1999, o vestido foi vendido em leilão a uma empresa colecionadora, por cerca de 1,27 milhões de dólares americanos (quase 1,2 milhões euros).
Em 2016, a empresa “Ripley’s Believe It or Not!”, igualmente colecionadora de objetos raros, comprou a peça original, também em leilão. por 4,8 milhões de dólares americanos (mais de 4,5 milhões de euros). Até hoje, este é o preço mais caro a que um vestido alguma vez foi vendido num leilão.
Ora, a Met Gala é uma gala anual de angariação de fundos para o nova-iorquino Metropolitan Museum of Art, informalmente conhecido como Met. O evento inaugura a exposição de moda do Costume Institute, cujo tema inspira o vestuário dos convidados para a gala. O mote deste ano era “Gilded Glamour” (em português, “Glamour Dourado”), uma referência à americana Era Dourada dos finais do século XIX, que ficou marcada por um rápido crescimento económico.
Kim Kardashian pensou, como contou à revista Vogue: “O que teria eu vestido a propósito do tema americano [no ano passado, a premissa para o vestuário foi: “Na América: Um Léxico da Moda”] se não tivesse usado o look da Balenciaga? Qual é a coisa mais americana em que se pode pensar? É Marilyn Monroe”,
Armazenado num cofre às escuras, a uma temperatura e humidade ótimas, respetivamente de 20ºC e 40 a 50%, e coberto por um leve lençol de musselina, o vestido milionário só tinha sido usado pela icónica atriz, até Kardashian ter convencido a “Ripley’s Believe It or Not!” a emprestar-lhe a peça original para a Met Gala 2022.
Assim, o vestido viajou de avião privado, acompanhado por guardas, até à casa da influencer. “Eu tive de usar luvas para o experimentar”, confessou. A peça não serviu a Kim Kardashian, que, a poucos meses do evento, decidiu que tinha de emagrecer para caber no vestido. “Era isto ou nada”, disse sem rodeios, visto que o original não podia ser alterado.
No mês seguinte, seguiu uma dieta alimentar excessivamente rigorosa, correu na passadeira e usou um fato de sauna (feito de tecido impermeável, tem como objetivo fazer quem o usa transpirar abundantemente) duas vezes por dia. Deste modo, perdeu mais de sete quilos em apenas três semanas – o que foi fortemente reprovado por nutricionistas e outras figuras públicas. Na segunda prova, o vestido serviu. Kardashian quis “chorar lágrimas de alegria”, revelou.
Foi assim que, a 2 de maio deste ano, a estrela dos média pisou a passadeira vermelha da Met Gala envergando o vestido memorável de Marilyn Monroe, embora apenas por alguns minutos. Mal subiu a escadaria do museu, trocou para uma réplica. “Sou extremamente respeitosa para com o vestido e o que ele significa para a história americana. Nunca quereria passar qualquer risco de o danificar”, assegurou.
De qualquer forma, Kim Kardashian foi criticada, não só pelo designer Bob Mackie, mas também por preservacionistas e entidades como o Conselho Internacional de Museus (ICOM). “O vestuário histórico não deve ser usado por ninguém, seja figuras públicas ou privadas”, lê-se no comunicado publicado no site da organização.
“Recomendamos vivamente a todos os museus que evitem emprestar vestuário histórico para ser usado, uma vez que são artefactos da cultura material da sua época e devem ser conservados para as gerações futuras”, concluiu o ICOM.