Se, em 1990, me tivessem dito que, em 2020, publicaria um livro intitulado Pelo Socialismo!, julgaria que se tratava de uma piada de mau gosto. Do alto dos meus 18 anos, acabara de passar o outono de 1989 a ouvir, na telefonia, o desmoronamento das ditaduras comunistas e do “socialismo real” na Europa de Leste.
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Em fevereiro de 1990, participei numa viagem de estudantes franceses para apoiar a juventude romena que acabara de se livrar do regime de Ceaușescu. Chegámos a meio da noite ao aeroporto de Bucareste e em seguida, de autocarro, à cidade tristonha e coberta de neve de Brasov, aninhada no arco dos Cárpatos. Os jovens romenos mostraram-nos com orgulho os impactos das balas nas paredes, testemunhos da sua “Revolução”. Em março de 1992, fiz a minha primeira viagem a Moscovo, onde vi as mesmas lojas vazias, as mesmas avenidas cinzentas. Conseguira infiltrar-me nas bagagens de um colóquio franco-russo intitulado “Psicanálise e Ciências Sociais” e foi com um grupo de universitários franceses um pouco perdidos que visitei o mausoléu de Lenine e a Praça Vermelha, onde a bandeira russa acabara de substituir a soviética.