O mais provável é que, em alguma fase da sua vida, tenha sentido que podia comer tudo o que queria sem engordar. Um estudo recente sugere que o metabolismo basal – quantidade de energia gasta para manter o organismo a funcionar em repouso – atinge o seu pico mais cedo do que se pensava e começa o declínio mais tarde.
Bebés com idades entre 9 e 15 meses gastam mais 50% de energia num dia do que os adultos, considerando as diferenças de peso. Gastam energia ainda mais rapidamente do que mulheres grávidas e adolescentes, provavelmente porque o desenvolvimento do cérebro e dos órgão consome mais energia. A energia diminui nas pessoas mais velhas à medida que os órgãos encolhem e perdem massa cinzenta no cérebro, sugere o estudo.
“As crianças não estão a queimar energia como pequenos adultos”, disse o biólogo Herman Pontzer, que liderou a investigação. “Eles estão a queimar energia de forma super rápida, como se fossem uma espécie diferente”.
O estudo, publicado na revista Science, envolveu um banco de dados extenso e diversificado sobre o gasto total de energia diária de 6 421 pessoas, homens e mulheres de várias nacionalidades, com idades entre os 8 dias de vida e os 95 anos. Os autores descobriram que o metabolismo não é estático ao longo da vida e que o tecido magro dos órgãos usa mais energia do que a gordura.
Para calcular as taxas metabólicas diárias de cada indivíduo foi utilizada uma técnica de água duplamente marcada (doubly labeled water em inglês), um teste que acarreta elevados custos e consiste na ingestão de água onde o hidrogénio e oxigénio são substituídos. Os cientistas medem a rapidez com que a solução é eliminada através da urina ao longo de 24 horas durante uma semana ou mais, de forma a calcular a quantidade de energia que os indivíduos gastam em média por dia.
Os dados indicaram que o metabolismo elevado das crianças as torna particularmente mais vulneráveis a doenças e provoca um défice no crescimento, caso não recebam as calorias necessárias a um desenvolvimento saudável. O metabolismo das crianças permanece elevado até aos 5 anos de idade, mas começa a diminuir lentamente até atingir um patamar por volta dos 20 anos. “Após esse aumento inicial na infância, os dados mostram que o metabolismo desacelera em cerca de 3% a cada ano até chegarmos aos 20 anos, quando se estabiliza num novo normal”, explicou John Speakman um dos autores do estudo.
As taxas metabólicas dos adultos permanecem estáveis até os 60 anos, quando começam novamente a diminuir. A desaceleração é gradual, consistindo numa redução de 0,7% ao ano. Após os 90 anos passa a gastar-se menos 26% de calorias por dia do que alguém na meia-idade.
O estudo também descobriu que as mulheres grávidas não têm taxas metabólicas mais altas do que os outros adultos, apenas gastam mais energia porque aumentam o tamanho do corpo. Mais tarde, os bebés nascem com as mesmas taxas metabólicas das mães.
Contraintuitivamente, a taxa metabólica também não aumentou nos adolescentes. “Quando as crianças atingem a puberdade, parece haver um grande aumento na quantidade de calorias que consomem”, explica Herman Pontzer. “Na casa dos 30 e 40 anos ou quando chega a menopausa as pessoas, muitas vezes, sentem que diminuem o ritmo”, mas a taxa metabólica não muda nessas alturas. Mudanças hormonais, stress, doenças, crescimento e níveis de atividade física influenciam o apetite, a energia e o peso corporal, justificando a situação.
“À medida que envelhecemos, ocorrem muitas mudanças fisiológicas nas fases da nossa vida, como durante a puberdade e na menopausa. O que é estranho é que o tempo das ‘fases metabólicas da vida’ não parece corresponder aos marcos que nós associamos com o crescimento e o envelhecimento”, disse Jennifer Rood, outra autora do estudo.
Um estudo realizado em 2014 descobriu que o cérebro das crianças consome 43% de toda a energia usada pelo corpo, relacionando-se com a recente descoberta do elevado metabolismo das crianças mais novas.