Estive há duas semanas em Portugal e já nessa altura a minha família perguntou se eu queria voltar para Itália. Disse-lhes que voltava porque tenho cá o meu trabalho, tenho responsabilidades, há estruturas que preciso de assegurar. Na quarta-feira, 4 de março, estava numa reunião na universidade, o European University Institut, quando nos entraram pela sala adentro e nos entregaram um papel com as medidas do primeiro-ministro Giuseppe Conte. Arrumámos logo as coisas para ir para casa. Foi como uma cena à filme!
Depois disso, muitas pessoas começaram a sair de Florença. Não todos ao mesmo tempo, ainda nesta semana que passou saíram mais uns quantos. Todos os dias têm existido medidas mais restritivas: começou por ser apenas o evitar ir para o trabalho, fazendo apenas as deslocações necessárias, mas todos os dias têm existido medidas ainda mais restritivas. Agora, todos os estabelecimentos comerciais encerraram, apenas os supermercados, as farmácias, os bancos e os correios permanecem abertos. Quem quiser sair de casa, tem de estar preparado para poder ser parado pela polícia, tem de estar preparado para preencher um formulário e explicar onde vai. Anteontem, fui andar um ou dois quilómetros para esticar as pernas e arejar – e só, nesse pequeno percurso, vi três carros de polícia. Isto parece mesmo um filme! Dizer às pessoas que só podem ir aos supermercados e às farmácias até às 18 horas, que só entram cinco de cada vez e que haver polícias nas ruas a controlar todos os nossos movimentos é o mais próximo que podemos ter de uma ditadura. A verdade é que, para os líderes políticos, também vai ser muito complicado gerir tudo isto…
Do ponto de vista económico, começo por falar nos aspetos negativos, sobre os quais infelizmente é mais fácil falar. As pessoas estão a deixar de consumir da mesma maneira e, portanto, as vendas das empresas e dos serviços vão diminuir. Isto vai acontecer não só com as empresas italianas, mas também com aquelas que estavam a exportar para Itália, tal como sucedeu na China. Quem vai sofrer mais são as empresas que têm produtos perecíveis porque as outras talvez possam manter o seu stock… Depois, há ainda as questões relacionadas com os sistemas de saúde (nos EUA, vai ser um autêntico teste), com o trabalho (em Itália ainda não se decidiu um sistema centralizado de proteção para os trabalhadores precários), com os mercados, com a confiança… A verdade é que até aqui a China reagiu muito mais depressa. Também me esforço por ver alguns pontos positivos. Por um lado, isto tudo também pode ser uma oportunidade para repensar toda a estrutura económica. Vemos que muitas pessoas que continuam a trabalhar a partir de casa, estão a fazer teletrabalho, a realizar conferências com o Zoom, por exemplo, e com isso podemos reduzir as emissões de carbono, porque vão precisar de viajar menos. Por fim, parece uma piada, mas a verdade é que, no passado, aconteceu com outras pandemias: como as pessoas estão mais em casa, poderá haver um aumento da fertilidade. Só posso esperar que, no futuro, a longo prazo, consigamos olhar mais para os aspetos positivos do que para os aspetos negativos.