Enquanto o número de infetados com o coronavírus aumenta, cresce também o número de teorias em torno da sua origem. As cobras começaram por ter sido apontadas como a principal fonte da contaminação, mas agora uma equipa de investigadores chineses do Instituto de Virologia do Wuhan dá conta de que os morcegos podem estar na origem.
Com base nas análises ao sangue de sete doentes infetados no Hospital Jinyintan, em Wuhan, os investigadores estudaram a sequência genética do vírus e descobriram que mais de 96% da estrutura do corona vírus (apelidado de nCoV2019) é partilhada por um vírus da mesma família identificado nos morcegos.
Não é a primeira vez que estes mamíferos são apontados como “reservatórios naturais” das últimas grandes epidemias. Acredita-se que tanto o Ébola, a epidemia que matou entre 2013 e 2016 mais de 11 mil pessoas na África Ocidental, como o vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARSr-CoV), que atingiu o continente asiático e matou quase 800 pessoas, tenham tido também origem nos morcegos.
Além destes animais, na semana passada, um outro relatório publicado pela Universidade de Pequim dava conta de que este ciclo de contaminação tinha origem nas cobras. O estudo dizia que o vírus estaria alojado nas fezes destes répteis, espalhando-se depois pelo ar no mercado da cidade, de onde as autoridades acreditavam ter partido o surto.
Parece claro que o mercado de Wuhan não é a única origem do vírus
Bin Cao, especialista em pneumologia da Capital Medical University, em Pequim
É verdade que morcegos e cobras são iguarias populares naquele mercado e que as condições de higiene são duvidosas. Mas há novas teses que põem em causa o que era dado quase como certo. Um grupo de investigadores chineses concluiu agora que não existe nenhum “vínculo epidemiológico entre o primeiro paciente infetado e os casos posteriores”. Além disso, o mesmo estudo confirmou que 13 dos 41 casos analisados não frequentaram o mercado. “Esse é um número considerável: 13, sem ligações” disse à revista Science Daniel Lucey, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Georgetown, nos EUA.
Os especialistas estimam que as primeiras infeções do surto tenham ocorrido em novembro – ou mesmo antes –, uma vez que nestes casos existe sempre um período de incubação da doença entre a infeção e a manifestação dos primeiros sintomas. Possivelmente o vírus ter-se-á espalhado a partir dessa altura de forma silenciosa entre as pessoas de Wuhan e noutros lugares, além do agora famoso mercado de Wuhan.
Os dados deste estudo levantou também questões sobre o rigor das informações inicialmente divulgadas pelas autoridades chinesas. Até 11 de janeiro, com 41 casos então confirmados, a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan não apontava o mercado da cidade como a fonte da contaminação, nem tão pouco identificou perigos de contágio entre humanos.
“Agora parece claro que o mercado de Wuhan não é a única origem do vírus”, disse, também à Science, Bin Cao, especialista em pneumologia da Capital Medical University, em Pequim. E acrescentou: “Mas, para ser sincero, ainda não sabemos de onde veio o vírus.”
Até agora, o coronavírus já matou 81 pessoas e o número de infetados subido para 2 744 casos confirmados, dos quais 324 estão em estado grave. Investigadores de Hong Kong estimam que o número de casos possa aumentar para os 40 mil e aconselham os governos a adotarem medidas severas para restringir os movimentos populacionais que nesta altura se intensificam, devido às celebrações do Novo Ano Lunar na China.