Dizem que da capelinha da Nossa Senhora das Necessidades, bem no alto dos 1242 metros de altitude do Monte do Colcurinho, na serra do Açor, se pode tocar o céu. Mas é na descida, e no asfalto em perfeito estado, onde quase só circulam as viaturas de manutenção às enormes torres eólicas, que muitos skaters encontram o paraíso. A paisagem tem tanto de magnífica como de assustadora, se imaginarmos que a inclinação da estrada, sempre em curva e contracurva, ronda os 14 por cento, o que permite aos mais destemidos atingir os 65 a 70 quilómetros por hora. “Não dá para mais porque a estrada é estreita e temos de negociar bem as curvas”, revela Jorge Pernes, 32 anos, um dos protagonistas do filme.
Ao longo de quatro dias, em setembro do ano passado, Jorge e mais cinco skaters, três deles portugueses, andaram a subir, lentamente, e a descer, vertiginosamente, o Monte do Colcurinho, no concelho de Oliveira do Hospital. A escolha do cenário, porém, não foi obra do acaso. A ideia surgiu num encontro, na Alemanha, entre um responsável pela DJI, uma das maiores e mais inovadoras empresas de drones do mundo, e um dos responsáveis da Olson & Hekmati, fabricante de pranchas de skate, principalmente na variante de downhill que pretendiam realizar um vídeo promocional de ambas as atividades. “Depois de muita conversa chegaram à conclusão que na Alemanha não encontravam um sítio que lhes permitisse fazer isso, quer por questões climatéricas, quer de cenário e o Alex Dehmel, da empresa de skates, e meu amigo, ligou-me para ver se eu conhecia um sítio sem árvores nem postes ou cabos de eletricidade”, explica Jorge.
Skater há doze anos e com vários patrocínios, “todos de empresas inglesas”, Jorge Pernes, 32 anos, vivem em Algés e é avaliador imobiliário de profissão, “porque cá não dá para viver só de desportos radicais”. De início estava apenas para ficar como consultor do projecto, encarregue de entrar em contacto com a Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, por causa do apoio logístico, nomeadamente o condicionamento do trânsito na zona das filmagens, e de tratar de encomendar “ao senhor Vítor Santos, do Solar dos Pachecos, o fantástico serviço de catering” que ele fazia questão de levar, serra acima, diariamente. “Uma vez, confessou o próprio proprietário do restaurante à VISÃO, “até lhes levei uma chanfana que, apesar de as nossas especialidades serem os petiscos, também queria que eles provassem a boa comida portuguesa”.
Jorge acabaria mesmo por ser chamado também para as filmagens na companhia de Pedro Roque e Cristiano Medusa, os outros dois portugueses, e Alex Dehmel, Jan-Christoph Liebing e Maxwell Keye, o contingente estrangeiro. Os restantes seis elementos pertenciam à empresa de drones que se encarregou de liderar as filmagens. “Foram quatro dias muito cansativos e exigentes em que tínhamos de nos levantar às quatro da manhã para aproveitar o maior número possível de horas de sol”, conta Jorge que se mostra, ainda assim, “extremamente agradado com o resultado final” do vídeo onde as arrojadas manobras dos skaters são filmadas de quase todos os ângulos por três drones de última geração – dois Inspire 2 e um Phantom, para o making off – e outras câmaras móveis.
Se quer ver como é que se voa baixinho veja o filme mas não se esqueça de ler as letras pequenas que aparecem no final: ‘Professional on a close course. Do not attemp’ ou, traduzido para português corrente: ‘Não tentem fazer isto em casa’.