Julia Belluz, jornalista no site Vox, leu mais de 60 estudos e entrevistou nove investigadores ligados a pesquisas sobre cigarros eletrónicos. Respondeu a várias perguntas com base na ciência e nós selecionamos algumas respostas para si
O que diz a ciência?
A maioria dos estudos não passa nos testes básicos de rigor metodológico. Só existem dois estudos credíveis publicados, uma vez que a maioria dos estudos sobre a matéria são financiados pela própria indústria de cigarros eletrónicos – existindo assim um conflito de interesses. “A maioria dos estudos foram financiados ou de outra forma suportados/influenciados pelos produtores” comenta Martin Døssing que, juntamente com Charlotta Pisinger, analisou 76 dos melhores estudos sobre o tema.
Outra complexidade das pesquisas nesta área é a variedade existente de cigarros eletrónicos. Existem 500 marcas e mais de 7000 sabores. Cada aparelho queima e distribui nicotina de maneiras diferentes e a sua tecnologia está a avançar rapidamente. Além disso, os cigarros eletrónicos são recentes e ainda não foi possível conduzir um estudo que analise o efeito dos mesmos ao longo dos anos.
“O aspeto mais preocupante acerca dos cigarros eletrónicos é que nós não sabemos as consequências do seu uso diário a longo prazo. Irão os utilizadores aparecer com doenças inesperadas, como cancro, daqui a 10 ou 20 anos? Substâncias conhecidas por serem cancerígenas foram encontradas em algumas marcas”, diz Døssing.
Como funcionam os cigarros eletrónicos?
O objetivo é que o utilizador fume através do aparelho para satisfazer a sua necessidade de nicotina, inalando apenas o químico sem outras substâncias cancerígenas. A nicotina é distribuída através de um vapor aquecendo uma solução de propilenoglicol ou glicerina vegetal, sabores e outros aditivos.
O mais apelativo nos cigarros eletrónicos é que não contêm tabaco e o vapor exalado não contêm fumo prejudicial à saúde de outros, alcatrão ou monóxido de carbono. Também têm um número significante de toxinas e cancerígenos a menos que os cigarros normais.
O quão perigosos são?
Tal como já foi referido, ainda não é possível determinar exatamente como os cigarros eletrónicos podem afetar a saúde humana. Segundo a American Heart Association “os efeitos dos cigarros eletrónicos na saúde ainda não foram bem estudados e o potencial dano ocorrido por utilização a longo termo destes aparelhos permanece completamente desconhecido”
No entanto, os estudos efetuados em utilizações a curto prazo mostram que não existem efeitos imediatos graves. “Os dados dos efeitos na saúde, estudados, em primeira análise, em pessoas saudáveis com exposição a curto prazo, revelam pouca ou nenhuma evidência de danos adversos. Irritação respiratória e constrição nos brônquios por causa do propilenoglicol aumentam preocupações em possíveis danos em pessoas com asma e obstrução pulmonar crónica”, diz a AHA.
Os cigarros eletrónicos são mais seguros que os cigarros tradicionais?
Como ainda não existem estudos que mostrem os danos causados após décadas de uso e os danos imediatos dos cigarros eletrónicos parecem ser mínimos em comparação com os cigarros tradicionais, a maioria dos investigadores concorda que estes cigarros são uma ferramenta para diminuir os danos em pessoas muito fumadoras. Em 2015, a Public Health England concluiu que os cigarros electrónicos são 95% menos prejudiciais que os cigarros normais.
Os cigarros eletrónicos ajudam as pessoas a deixar de fumar?
A Royal College of Physians diz que sim mas um estudo publicado no JAMA Internal Medicine sugere que os cigarros eletrónicos não são assim tão eficazes. “A utilização de cigarros eletrónicos por fumadores não foi seguida de uma maior desistência ou redução de consumo um ano depois”, conclui o estudo.
A nicotina é prejudicial?
Alguns estudos defendem que a nicotina, quando consumida sem os outros elementos químicos presentes num cigarro tradicional, não é prejudicial. “A nicotina é o químico que vicia presente no tabaco, mas o seu envolvimento em danos causados pelo ato de fumar, é mínimo (exceto durante a garvidez)”, conclui um estudo sobre o uso e segurança dos cigarros eletrónicos.
O vapor do cigarro eletrónico de outra pessoa é prejudicial para si?
Uma análise publicada pela American Heart Association sugere que o vapor dos cigarros eletrónicos contamina o ar com nicotina e toxinas mas que os efeitos de estar exposto a esse vapor a longo prazo ainda são desconhecidos. Comparados com cigarros tradicionais, os eletrónicos libertam 10 vezes menos nicotina.
Investigadores no Roswell Park Cancer Institute encontraram toxinas nos cigarros eletrónicos mas estas toxinas eram 450 vezes menos prevalentes do que no fumo de um cigarro normal.
Apesar de a exposição num curto espaço de tempo não parecer prejudicial, ainda não há estudos que permitam concluir os efeitos durante uma exposição mais longa.