Manuela Pecegueiro, directora do Serviço de Dermatologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, disse à Lusa que “houve várias alterações comportamentais na sociedade que levaram a uma maior e mais intensa exposição solar”.
“Há mais informação sobre os protectores solares, mas os hábitos são diferentes. Antes, íamos para a praia mais cedo, almoçávamos em casa, dormíamos a sesta e só voltávamos à praia a partir das 16:00. Ninguém ia dormir a sesta para a areia”, lembra a especialista.
A prudência popular determinava também que se alugasse um toldo ou uma barraca para abrigar as crianças durante as horas de maior calor.
O que hoje não acontece. Os ritmos de vida mudaram, as noites dos mais jovens prolongam-se até tarde e os dias começam muitas vezes por volta da hora de almoço, com a praia a servir para recuperar algumas das horas de sono perdidas.
É precisamente esta “exposição súbita e intermitente à radiação ultravioleta” que provoca os chamados escaldões e que tem contribuído para aumentar o número de casos de cancro da pele e acentuar a sua gravidade.
A dermatologista defende uma maior aposta na prevenção e sublinha que se gastam fortunas em tratamentos quando prevenir é o melhor remédio.
É o que fazem países com grande incidência de melanoma, como a Austrália, onde as autoridades de saúde distribuem os protectores solares gratuitamente nas praias.
Para Manuela Pecegueiro, o factor preço é decisivo. “Os protectores custam pelo menos 15 euros. Se forem aplicados correctamente, da cabeça aos pés e renovando a aplicação após o banho, um frasco não chega para toda a época balnear. E é preciso contar com os vários elementos da família”, assinalou.
A responsável do IPO recomenda um índice de protecção nunca inferior a 25, mas salienta que tudo depende da pele. Os grupos de alto risco são aqueles com um fototipo mais baixo: louros, ruivos e pessoas que bronzeiam pouco.
“Se for uma pele que escalda, se tiver um fototipo baixo, deve usar pelo menos um [protector] 30, para permitir o bronzeamento sem escaldar”, aconselha a médica.
Em Portugal, o tipo de cancro mais frequente é o basalioma, mas é o melanoma que mais preocupa os especialistas.
O basalioma surge sobretudo em pessoas que estão continuamente expostas ao sol, como os pescadores, trabalhadores rurais ou marinheiros, e tem um índice de cura próximo dos cem por cento.
Menos frequente é o carcinoma espinocelular, que também aparece em pessoas que trabalham ao ar livre, mas mais velhas.
Quanto ao melanoma, muito mais agressivo, está associado a pessoas mais jovens e resulta muitas vezes de uma exposição ao sol intensa e intermitente. “É o que nos tem preocupado mais. É um cancro muito agressivo e nos jovens toma proporções dramáticas”, descreve Manuela Pecegueiro.
A dermatologista alertou para a necessidade de se “estar atento” a lesões pré-existentes, como os sinais, às quais nem sempre é dada a devida importância porque acompanham as pessoas desde sempre e fazem parte do seu corpo.