Até à chegada do terceiro tema, o debate entre a socialista Ana Gomes e o liberal Tiago Mayan Gonçalves teve falta de vivacidade. Chamou-se o antigo primeiro-ministro José Sócrates, a conversa mudou de figura e o tom subiu. Tiago Mayan acusou a adversária de ter andado de “braço dado com Sócrates”. Ana Gomes, para se defender, disse que “não sabia da missa a metade”.
Seguiu-se uma troca acesa de acusações sobre o que cada um dos candidatos fez ou quer fazer para combater a corrupção. Falou-se também sobre a possibilidade de um novo confinamento e das declarações de António Costa dirigidas a três militantes do PSD que pediram a demissão da ministra da Justiça na sequência do caso da nomeação do representante português na Procuradoria Europeia.
Estes foram os momentos mais marcantes do debate:
José Sócrates, o calcanhar de Aquiles dos socialistas
Tiago Mayan Gonçalves:
“Ana Gomes gosta muito de falar sobre corrupção, mas tem hipermetropia: vê mal ao perto. Quando Sócrates era um vencedor andava de braço dado com ele.”
Ana Gomes:
“Eu não sabia da missa a metade, mas falei do que sabia. Eu não falo só sobre corrupção, eu atuo. Eu entrego denúncias fundamentadas sobre os submarinos, sobre o apagão fiscal, eu colaboro com a justiça sem nunca me substituir à justiça.”
Contexto: Foi a moderadora, a jornalista da TVI Carla Moita, que fez o favor a Tiago Mayan de chamar para a conversa o nome do antigo primeiro ministro José Sócrates, acusado de corrupção e fuga ao fisco. Ora, o candidato liberal aproveitou a oportunidade para atacar Ana Gomes, que quis deixar claro ter sido uma das pessoas que já contestava o político, mesmo não se tendo apercebido dos alegados crimes.
Confinar e votar, é desejável?
Tiago Mayan Gonçalves:
“O que ouvimos [na conferência de imprensa depois do Conselho de Ministros] foi a repetição das medidas de sempre. O que ouvimos é que vamos de novo voltar a concentrar pessoas.”
“Preocupa-me o dia das eleições efetivamente, mas preocupa-me muito mais os outros dias e o País não aguenta um novo confinamento.”
Ana Gomes:
“Compreendo que seja preciso tomar medidas drásticas por causa da situação [epidemiológica] que se está a agravar.”
“À partida também acho que a democracia não pode ser suspensa.”
Contexto: O primeiro-ministro anunciou, esta quinta-feira, o recolher obrigatório em quase todo o País no próximo fim de semana. A regra aplica-se a todos os municípios com mais de 240 casos de Covid-19 por cem mil habitantes, o que deixa de fora apenas 25 concelhos de Portugal Continental. António Costa avançou ainda com a possibilidade forte de as medidas agora em vigor se tornarem mais restritivas já na próxima semana. Tiago Mayan mostrou-se, mais uma vez, contra a forma como o Governo está a conduzir o combate à pandemia, sem se alongar em relação à probabilidade das eleições acontecerem em estado de emergência. Já Ana Gomes quis deixar claro que a prioridade é a saúde, mas que devem ser criadas condições para os cidadão se deslocaram às urnas.
Costa e a campanha para denegrir Portugal
Ana Gomes:
“É o tipo de argumentos que Viktor Orbán usa para atacar quem o crítica e o nosso primeiro-ministro é muito melhor do que isso. Por isso, custou-me ver esse tipo de resposta às críticas.”
Tiago Mayan Gonçalves:
“É absolutamente inaceitável e indigno de um primeiro ministro. Se quer ter responsabilidade tem de assumir as responsabilidades.”
“Marcelo acertou, pelo menos uma vez, ao dizer por outras palavras que a ministra [da Justiça] deve ser demitida”.
Contexto: Questionados sobre a postura de António Costa que acusou, hoje, os militantes do PSD Paulo Rangel, Miguel Poiares Maduro e Ricardo Baptista Leite de organizarem uma campanha com o objetivo de prejudicar a imagem e o nome de Portugal internacionalmente, por pedirem a demissão da ministra da Justiça, os dois candidatos às presidenciais admitem que o primeiro-ministro teve mal. Mas se Ana Gomes critica apenas as declarações proferidas por Costa hoje, Mayan ataca, ainda com mais intensidade, a permanência da ministra da Justiça no cargo, depois do caso da nomeação do representante português na Procuradoria Europeia.
Sondagens
Ana Gomes:
“Esse assunto é completamente irrelevante para mim”.
“A sondagem que importa é a do dia 24 de janeiro.”
Tiago Mayan Gonçalves:
“Demonstra crescimento e um bom resultado é o crescimento da onda liberal.”
Contexto: Sobre a sondagem da Pitagórica, realizada para a TVI e o Observador, divulgada hoje, que dá como vencedor da eleição, à primeira volta, Marcelo Rebelo de Sousa; coloca em segundo lugar Ana Gomes empatada com André Ventura e dá à Iniciativa Liberal 2,1% dos votos, a socialista não se quis pronunciar. Já Mayan recolheu os louros da estimativa.