Tal como vem acontecendo, desde 1975 – nesse caso, nas eleições para a Assembleia Constituinte –, e como os quadros que apresentamos ao leitor eloquentemente demonstram, só um de dois partidos estruturantes da democracia portuguesa se apresenta às urnas, a 30 de janeiro, com hipóteses de vencer. Os dois primeiros lugares do pódio eleitoral têm sido invariavelmente ocupados ora pelo PS, ora pelo PSD, e os dois juntos conseguem, geralmente, garantir entre 70% e 80 e picos por cento dos votos, o que revela uma constância do eleitorado central que, em termos europeus, não é assim tão frequente. Acresce a isto o facto de ambos já terem conseguido, sozinhos, maiorias absolutas, na eleição de deputados: o PSD em 1987 e em 1991 e o PS em 2005.
O eleitorado dito moderado foi menos numeroso nas últimas legislativas, em 2019, momento em que, com a entrada de três novos partidos, todos de fundação recente (a juntar a uma outra força política que entrara em 2015, o PAN), a fragmentação parlamentar se fez sentir com mais significado. PS e PSD, juntos, obtiveram um resultado na casa dos 65%, o desempenho historicamente mais fraco do “centrão” – mas, mesmo assim, esse eleitorado mais flutuante, que vota ora num dos partidos, ora no outro, e que decide eleições, continuou a ser hegemónico. Em 2019, sentia-se o fim da era do voto útil, que parecia ter entrado em extinção, depois da ”geringonça” formada pelo PS, com o BE, o PCP e o PEV. É que, em 2015, pela primeira vez, o partido colocado em segundo lugar conseguira ver indigitado o seu líder como primeiro-ministro. O precedente terá provocado alguma erosão nas intenções do voto útil, mas as sondagens para as legislativas antecipadas de 30 de janeiro deste ano parecem indicar um regresso em força do tal voto pragmático – que visa, fundamentalmente, eleger um primeiro-ministro e garantir establidade – e que pode recuperar para o centrão algumas das posições perdidas em 2019.
Um dos aspetos mais interessantes das eleições é o de saber quem se perfila como “terceira força”. Se contarmos a partir de1999, verificamos que o CDS conseguiu ser esse fiel de balança em três ocasiões: 2002, 2009 e 2011. O PCP arrecadou a medalha de bronze em 1999 e em 2005. E o Bloco arrebatou esse lugar nos dois últimos atos eleitorais: 2015 e 2019. E se estes dois partidos da esquerda continuam a sonhar com esse terceiro lugar no pódio, desta vez, porém, encontram-se acossados, em sondagens, por novas forças políticas, ambas de direita,, a Iniciava Liberal e, sobretudo, o Chega, partido da direita radical e dita populista. Já o CDS parece ter desaparecido desse campeonato dos “médios-grandes”.
Se o leitor (e eleitor) pode revisitar, nestes quadros, as barras indicativas dos resultados, também é convidado ao exercício de conferir, noutro quadro, a composição parlamentar, por bancadas, desde a Constituinte, em 1975. As manchas laranja e cor-de-rosa, correspondentes a PSD e PS, vão-se alternando na hegemonia central da Assembleia, enquanto os outros apresentam modificações mais significativas, ao longo dos vários períodos. Ao passar com o rato do seu computador ou com o ponto de incerção de outro dispositivo eletrónico pelas barras do primeiro quadro ou pelos lugares do hemiciclo do segundo, visualizará, de forma automática, informação complementar, relativa a números, percentagens, coligações e outros dados relevantes.