Os partidos sem assento parlamentar voltaram – como há dois anos – à antena da RTP para, num contrarrelógio de duas horas, “tentarem” apresentar aos portugueses que propostas têm para o País – foram dez “corredores” políticos, que também vão constar na (maioria) dos boletins de voto no próximo dia 10 de março.
Gerido meritoriamente pelo jornalista Carlos Daniel, o debate contou com rostos bem conhecidos – como José Pinto-Coelho (Ergue-te), José Manuel Coelho (PTP) ou Joaquim Afonso (Nós, Cidadãos!) – e outros novos – como Inês Bravo Figueiredo (Volt Portugal), Ossanda Liber (Nova direita) ou Márcia Henriques (RIR).
Em resumo: Ossanda Liber, José Pinto-Coelho e Bruno Fialho (ADN) revelaram argumentos próximos da direita radical populista, ao encontro de posições contracorrente, combativas nos costumes (falou-se muito de imigração e “ideologia de género”). Joaquim Afonso, o único militar a presidir a um partido político em Portugal, engrossou a voz para clamar contra os políticos que se têm vindo “a portar mal”. Nuno Afonso (Alternativa 21) e Márcia Henriques apresentaram-se de mangas arregaçadas, num registo de trabalho e mudança. João Valente Pinto, do PCTP/MRPP, personificou a luta dos trabalhadores, e o combate ao grande capital (que quer ver taxado mais fortemente). Como se esperava, Filipe Sousa do Juntos Pelo Povo (JPP) vincou a costela regionalista (ao som do sotaque da Madeira). O conterrâneo José Manuel Coelho, do Partido Trabalhista Português (PTP), tentou, por sua vez, atirar para o passado as “sátiras” que protagonizou no passado. E, por fim, Inês Bravo Figueiredo, do Volt Portugal, que, num estilo polido e moderno, esforçou-se para enumerar propostas, com base “naquilo que se faz de melhor na Europa” – pecando, apenas, por, muitas vezes, a solução não parecer “encaixar” com o caso português.
Ficam aqui as ideias-chave de cada candidato, que, na última edição, a VISÃO deu a conhecer.
Márcia Henriques – RIR – Reagir, Incluir, Reciclar
Márcia Henriques explicou que a mudança na liderança do RIR – antes ocupada por Vitorino Silva – foi “estratégica”, por considerar que o popular “Tino de Rans”, cabeça de lista do partido pelo Porto, era, por vezes, “ridicularizado”.
A presidente do RIR quer aumentar o cúmulo jurídico para os 35 anos. E soluções governativas “estruturais, e não ‘pensos rápidos'”. A primeira medida de Márcia Henriques passaria por baixar impostos nomeadamente as taxas máximas e intermédias do IVA – dos 23% para os 17% e dos 13% para os 10%. “O Estado recuperaria as receitas, graças ao aumento do poder de compra”, garante.
A frase: “As crianças [nas escolas públicas] comem pior que cães”.
João Vante Pinto – PCTP/MRPP
O cabeça de lista por Lisboa do PCTP/MRPP considera que o facto de “metade das pessoas em Portugal não votarem (…) é um sinal da insatisfação” dos portugueses em relação ao atual sistema capitalista. João Valente Pinto, fiel às suas convicções, criticou o Governo português “pelas posições erradas em relação às guerras”. Condenou o apoio português ao “invasor Israel”, mas, quando questionado sobre o “invasor Rússia”, engasgou-se, chamando ao conflito que decorre em território ucraniano “uma guerra civil”.
O representante do partido fundado pelo “histórico” Arnaldo Matos – falecido em 2019 – quer “acabar com todos os impostos, menos um”: “Sobre o trabalho e a riqueza”, afirma.
A frase: “[A guerra na Ucrânia] pode ser considerada uma guerra civil até ao momento”.
Filipe Sousa – Juntos Pelo Povo
O candidato pelo círculo da Madeira, Filipe Sousa, falou da “insularidade” para justificar a “aventura” deste movimento cívico, dominador no município de Santa Cruz (Madeira), e com presença na Assembleia Legislativa da Madeira, nas eleições para a Assembleia da República.
Filipe Sousa, que suspendeu o mandato como presidente da Câmara de Santa Cruz, para se dedicar a esta campanha, defendeu que a autonomia do arquipélago “precisa de ser reforçada e tal só pode acontecer com a revisão da constituição”. Pediu ainda um “sistema fiscal próprio” para a região.
A conversa passou depois para a imigração. O candidato do JPP disse “olhar para o imigrante e para o emigrante da mesma maneira”, defendendo “uma sociedade aberta e livre”, desde que “exista controlo”. “Sou de uma família de emigrantes, devemos respeitar estas pessoas que saíram em busca de uma vida melhor”, sublinhou.
A frase: “Vejo com naturalidade um País de portas abertas”
Bruno Fialho – Alternativa Democrática Nacional (ADN)
Bruno Fialho entrou a “matar”, focando-se nas principais bandeiras do partido. Pela agenda nacionalista, criticou as ajudas externas para países terceiros, por parte Governo português. Falou da “mortalidade excessiva” e atirou “ao jornalismo mentiroso”. Mencionou, ainda, o que considera ser a “fraude climática”.
Sempre ligado à (contra)corrente, defendeu que as mulheres que queiram recorrer à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) “devem pagar” ao SNS. “Quem não quiser pagar, tem o filho”, completou. E ainda falou da “doutrinação das crianças” nas escolas públicas, que, diz, “deve ser proibida”. “[As crianças] não devem ser doutrinadas por lobistas extremistas”, afirma. Numa tirada menos feliz, reduziu a realidade dos transsexuais a uma “doença mental que se chama disforia de género”.
A frase: “Os senhores que estão na Assembleia da República são meus funcionários, trabalham para mim”
Nuno Afonso – Alternativa 21 (MPT e Aliança)
O fundador e ex-número 2 do Chega quer “ser uma alternativa à direita, uma direita com quem se pode conversar”. Como era expectável, o anterior partido do vereador da Câmara de Sintra “veio à baila”, e Nuno Afonso descreveu a formação presidida por André Ventura como “um partido que vive do insulto”.
As bandeiras da coligação Alternativa 21 (que junta MPT e Aliança) passam por “reformas” nas áreas da Segurança, Educação e Saúde. Para tal, Nuno Afonso considera fundamental acabar com “o coletivismo” que existe nos partidos portugueses. “Às vezes, digo a brincar que preferia que a minha filha aos 14 anos vá para uma juventude partidária do que para a universidade (…). É mais importante ter um cartão partidário”, diz.
A frase: “Tudo está errado em Portugal”
Inês Bravo Figueiredo – Volt Portugal
A jovem Inês Bravo Figueiredo, rosto novo, rapidamente se destacou no debate, pela positiva. Nervosa ao início, a cabeça de lista pelo círculo de Lisboa foi-se soltando à medida que o tempo decorria, conseguindo enumerar uma boa dose de ideias que o partido pan-europeu tem para Portugal. “Queremos trazer para Portugal as melhores práticas que se fazem noutros países europeus”.
Bem, esteve a explicar as propostas para a Habitação, sugerindo o investimento no parque habitacional público, com rendas acessíveis, a reutilização de edifícios devolutos do Estado, a criação de cooperativas de habitação público-privadas e a desburocratização das licenças”. Menos bem, a elencar as soluções para a Educação e para “transformar” e “internacionalizar” a economia, onde as soluções da “Finlândia”, por exemplo, parecem não caber na realidade específica nacional.
A aposta para resolver os problemas de Portugal, também passa pela Europa, assegura. “Temos de aproveitar os 45 mil milhões do PRR e do Portugal 2023”, sublinha.
A frase: “Precisamos de pagar salários europeus a todos”
José Pinto-Coelho – Ergue-te
De uma coisa, José Pinto-Coelho não pode ser acusado: falta de coerência. O líder do Ergue-te continua a travar as suas batalhas “contra o regime de Abril”, e fez questão de, logo na primeira intervenção, afirmar que os 50 anos do 25 de Abril “não têm de ser celebrados”.
Fiel à agenda “Pátria, Vida e Família”, José Pinto-Coelho destacou-se a atacar a imigração, os (atuais) costumes e a “ideologia de género”. “Revogava a lei do aborto, da eutanásia e do casamento para pessoas do mesmo sexo”, afirma, acrecentando que “matava a ideologia de género de alto a baixo”.
Em relação aos imigrantes, disse que “a nacionalidade herda-se, não se atribui na secretaria”, e que o aumento da imigração “está a pôr em causa a nossa identidade nacional”. “Portugal está no caminho de se auto-extinguir, estamos a ser invadidos. Ainda ontem o chefe de comunidade do Bangladesh veio reclamar que quer uma rua em Lisboa. A terra não é deles, é nossa, vão-se embora”, concluiu.
A frase: “Matava a ideologia de género de alto a baixo”
Joaquim Afonso – Nós, Cidadãos!
Joaquim Afonso considera que “os mandatos são para cumprir”, mas diz que António Costa “não se devia ter portado mal como a pandilha que o acompanha”, o que tornou a demissão inevitável. Foi “incompetência”, diz, incluindo na crítica “os governos de PS e do PSD”.
O único militar a liderar um partido político em Portugal, ainda recorda, com um amargo de boca, as legislativas de 2015, em que o Nós, Cidadãos! ficou à beira de eleger um deputado pelo círculo Fora da Europa, e, por isso, defende que os círculos do estrangeiro deviam “ser mais representativos”, tendo em conta o número de eleitores inscritos.
Joaquim Afonso quer ainda “moralizar” a política portuguesa, acusando os partidos de “dominarem determinados setores do Estado” e de colocarem “todos os que têm cartão da cor do seu partido nos ministérios”. “Não temos um mundo melhor, temos alguns indicadores de desenvolvimento, mas só por causa União Europeia”, afirma o líder do Nós Cidadão!.
A frase: “[António Costa] não se devia ter portado mal como a pandilha que o acompanha”
José Manuel Coelho – Partido Trabalhista Português (PTP)
José Manuel Coelho tornou-se famoso pelos “números” na Assembleia Legislativa da Madeira, mas, desta vez, preferiu antes considerá-los “sátiras”, que tinham como objetivo “chamar a atenção” para “o que se passava na Madeira” de Alberto João Jardim.
O agora cabeça de lista por Lisboa do PTP – “reforço” escolhido por Amândio Madaleno, presidente do partido – defendeu o 25 de Abril, mas criticou o setor da Justiça (que já o condenou em diversas ocasiões). “Quando se deu o 25 de Abril, um dos grande erros dos militares foi não ter intervencionado a Justiça (…) [que] transitou intacta do Estado Novo para a nova situação democrática”, diz José Manuel Coelho.
Depois de defender o fim do IMI, José Manuel Coelho encerrou o debate, dizendo que é preciso “revitalizar a economia” através do aumento dos salários dos portugueses.
A frase: “Não vão ser os proprietários a sustentar as câmaras [através do pagamento do IMI]”
Ossanda Liber – Nova Direita
Ossanda Liber, um dos rostos novos do debate, apresentou-se ao País como uma “ponte” entre Luís Montenegro e André Ventura. “A renovação está a acontecer e queremos fazer parte dela”, asume, considerando que o País precisa de “uma frente de direita”. “Não temos dúvidas que a direita vai ter mais votos este ano, o problema é que uma direita desunida não serve os interesses do País”, refere.
Assumindo posições radicais, a presidente do recém-criado Nova Direita mostrou ao que vem. Defendeu reformas que “vão requerer esforços”, propondo que se deve “diminuir o número de funcionários públicos, (…) essencialmente na Administração Pública”.
Ossanda Liber, natural de Angola, que viveu em França, deu nas vistas a falar de imigração, sugerindo que se deve adotar critérios para a entrada de imigrantes em Portugal: “o da valência e o da proximidade cultural” do imigrante. Defendeu ainda a premiação das famílias por terem filhos – ela que tem quatro.
Quanto à Educação, a líder do Nova Direita afirmou que “partidos de esquerda estão altamente infiltrados nas escolas e determinam o caminho que se deve levar e ditar para as crianças”, antes de falar da ideia de impor o uso de fardas em todas as escolas.
A frase: “As fardas servem para uma aparência de igualdade, a escola não serve para um desfile de moda”