O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, estreante em debates com o líder do Chega, chegou ao frente a frente das legislativas, desta sexta-feira, com a lição estudada: tentar encostar André Ventura a um discurso populista, que pode vir a dar muito jeito ao PSD tal como já o deu ao PS, e marcar um distanciamento dos comunistas face ao partido que muito eleitorado de protesto que lhes tem tirado. Aliás, começou por querer distinguir aquilo que são as bandeiras do PCP daquilo que, nos últimos tempos, parece ser uma cópia que Ventura está a levar a cabo de algumas delas: “Não acompanhamos nenhuma iniciativa do Chega no Parlamento”.
Só que o presidente do Chega, que tentou perceber aos primeiros minutos qual ia ser o rumo do líder do PCP e rosto da CDU, rapidamente abandonou a pose de estadista, com que se tem apesentado desde o início da semana neste formato de debates, e repescou o tom dos embates de 2022 – passou a marcar os temas da discussão e contra-atacou com assuntos muito sensíveis para os comunistas, como o PREC, a NATO ou a moeda única.
Da corrupção à imigração, passando pelas pensões, Raimundo pouco mais conseguiu explicar que o valor de quanto poderia custar ao Estado aumentar as reformais baixas, segundo o desenho da CDU, a coligação do PCP com os Verdes: € 1.600 milhões. Já Ventura, enrolado numa estratégia de soundbites e apesar de já ter um programa eleitoral na mão, não explicou como e quanto custam as suas medidas.
“Pode prometer tudo, mas o objetivo central é voltar ao período de 2011. Por isso é que o Chega está tão obcecado em dar a mão ao PSD”, atirou o líder do PCP. Em resposta, Ventura ripostou: “quando foi o 25 de Abril e o PREC, vocês mataram pessoas”. “Tenha tento”, pediu o comunista. Mas o pedido não teve consequência, ao ponto de este debate, que levava então cerca de 15 minutos, não se ter endireitado até ao fim.
Indumentária
André Ventura apresentou-se de camisa branca, blazer azul e gravata amarela. Já Paulo Raimundo optou por uma camisa branca e blazer preto
Frases & Soundbytes
Paulo Raimundo: “Bem sei o jeito que deu ao Chega a chantagem do PS para termos tido eleições antecipadas em 2022”.
Andre Ventura: “O Paulo Raimundo e o PCP comportam-se um bocadinho como aquele irmão que tem um irmão problemático – mas, ao fim do dia, amparam-lhe os golpes”.
A surpresa (ou a rasteira)
NATO, União Europeia e moeda única. Os temas não estavam em cima da mesa. Mas Ventura trouxe-os e enleou Raimundo neles. “O senhor é um mestre em criar um cenário de tempestade. Tempestade é consigo”, reagiu, um pouco trémulo o comunista.
Ideia forte
Foi pelo tema da corrupção que começou a discussão. Se Raimundo defendeu que uma parte da raiz do problema deste flagelo reside nos processos de privatizações, como aconteceu com a ANA – e lembrou o recente relatório do Tribunal de Contas -, os CTT ou a PT. Já Ventura alegou, aludindo a um estudo de que não referiu a autoria, que “mostra que o centro da corrupção está no poder local”.