Parecia um dia de campanha eleitoral socialista das legislativas de 2015: cortes nas pensões e a limitação do direito à interrupção voluntária da gravidez, levadas a cabo pela coligação PSD/CDS, durante quatro anos. Só que não. Foi ao quarto dia de caravana do PS na rua. Pedro Nuno Santos aproveitou os deslizes de Luís Montenegro e do seu parceiro de coligação na AD, o CDS, para focar o apelo ao voto, precisamente, naqueles que são os grupos da população mais disputados nestas alturas: os idosos e as mulheres.
Depois de Luís Montenegro ter sentido a necessidade de assegurar que, se vier a ser primeiro-ministro, demite-se se tiver que cortar nas reformas dos portugueses, Pedro Nuno Santos pôs debaixo de fogo o social-democrata, não só pelas declarações que fez, como pelos partidos com que se coligou. “Fiquei mais preocupado, e acho que toda a gente, porque o líder do PSD diz “se tiver de cortar pensões”. Mas se tiver porquê? Aquilo que mostrámos, ao longo dos anos em que governamos [PS], é que não é preciso cortar”, atirou o socialista, em Leiria, ao final da manhã desta quarta-feira, onde esteve em campanha.
“Aquilo que o líder do PSD está a dizer é que ao primeiro aperto são sempre os mesmos a ser atingidos; não aprenderam nada”, disse Pedro Nuno, salientando que “o líder do PSD não resolve nada com esta declaração. Antes pelo contrário. [Diz:] ‘Se tiver de cortar pensões, eu vou-me embora. Venha outro'”.
As declarações de Montenegro, em Beja, surgiram após a interpelação de idosos, que reagiram ao aparecimento de Passos Coelho na campanha da AD e que lembraram não só os cortes durante os anos da Troika, como a alegada intenção do PSD, em 2015, de cortar 600 milhões de euros em pensões.
De acordo com o líder do PS, “não há necessidade de cortar pensões”. “Temos um líder do nosso principal adversário a dizer que garante que se demite se tiver de cortar pensões. Se tiver, porquê? Mas o que é isso de ‘se tiver’? Nunca tivemos de cortar pensões. Provámos que não é preciso cortar pensões quando estamos perante crises. Com essa afirmação, ele [Montenegro] não se reconciliou com ninguém, antes pelo contrário; faz-nos a todos estar alerta, porque aquilo que ele diz é ‘se tiver cortar pensões, vou-me embora. Vem para cá outro cortá-las'”, apontou, num almoço no centro de Leiria, com o cabeça de lista no distrito, Brilhante Dias, e onde esteve o ex-secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales.

“Conosco, não se cortam pensões. Não é só campanha. Não é só porque respeitamos quem trabalhou uma vida inteira. É porque sabemos que essa é uma resposta errada que deprime a economia, além de degradar a vida de quem trabalhou uma vida inteira”, disse.
CDS quer repescar referendo ao aborto
Na senda das declarações do vice-presidente do CDS, Paulo Núncio, à Renascença (o centrista que corre por Lisboa, nas listas AD, admitiu a vontade de reverter, através de um novo referendo, “a liberalização da lei do aborto”, assim como de limitações no acesso à IVG, como as taxas moderadoras que foram impostas durante a gestão de direita de Passos Coelho), Pedro Nuno salientou “somos responsáveis por quem trazemos para a nossa campanha, para o nosso projeto”. “Esse (AD) é um projeto de recuo e regresso ao passado. Cada dia isso fica mais claro: é nas pensões, é nos direitos das mulheres. Apelo ao voto de todos os pensionistas, reformados, às mulheres para defenderem o que foi conquistado”, garantiu.
“A forma [errada] como veem as mulheres – desde logo no que diz respeito a uma conquista que está sólida, consistente e não tem sido posta em causa em Portugal (não pode ser posta em causa)”, acusou, reivindicando que o PS “resolveu o problema da criminalização das mulheres, do risco para a vida que elas corriam”.
“É um assunto resolvido na sociedade portuguesa; houve um referendo; um referendo vencido. Quererem [AD] voltar para trás; para onde? Ao tempo da prisão, ao tempo do risco de vida para a mulher, da criminalização. Esse tempo já ultrapassámos”, concluiu.