Nas últimas autárquicas, o PSD ficou a 350 votos de ganhar a Câmara do Montijo. Um feito importante para aquele que é, historicamente, um dos distritos mais difíceis para os sociais-democratas. Isso e as boas sondagens internas pareciam tornar inevitável uma nova candidatura de João Afonso às autárquicas. Mas as críticas que fez publicamente à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, fizeram-no chocar de frente com Luís Montenegro. Este sábado, bateu com a porta, demitindo-se da concelhia do PSD Montijo e diz à VISÃO que ficará “como militante de base”. Caberá à distrital do PSD de Setúbal, liderada por Paulo Ribeiro, encontrar outra solução para o Montijo.
“O presidente do partido entendeu que o meu nome já reunia consenso [para ser candidato pelo PSD ao Montijo], conta à VISÃO João Afonso, que disse ter sabido da posição assumida por Luís Montenegro numa reunião da Comissão Permanente há duas semanas, através do líder da distrital Paulo Ribeiro, que lhe terá feito saber que Montenegro entendia a forma como tinha posto em causa Ana Paula Martins como “um ataque pessoal ao próprio primeiro-ministro”.
Em causa estava um comunicado assinado por João Afonso e enviado ao jornal local O Setubalense, no qual o social-democrata pedia a demissão da ministra da Saúde por, alegadamente, ter decidido encerrar a maternidade do Barreiro.
“A ministra é um cadáver político”
“A sra. ministra da Saúde tem manifestado um desnorte que a todos nos deve preocupar, não aceitando o PSD do Montijo que os montijenses vítimas do socialismo passem a vítimas da Social Democracia. A sra. ministra da Saúde deverá informar os portugueses se tem ou não capacidade e condições para o exercício do cargo e para executar as reformas estruturais que o SNS desesperadamente precisa”, declarava João Afonso, defendendo que Ana Paula Martins “deverá explicar ao País o que pretende fazer para reformar o SNS em oposição às medidas casuísticas e desesperadas de encerramento de serviços de saúde fundamentais para o bem-estar e dignidade das populações”.
Paulo Ribeiro terá dado a João Afonso a hipótese de se retratar do duro ataque político feito à governante, mas para o vereador social-democrata isso estava fora de questão. “A ministra é um cadáver político”, insiste à VISÃO.
“O presidente da distrital disse que eu teria de me retratar. Eu achei que era um ultimato e que não me deveria retratar. Eu acho que tinha razão”, argumenta João Afonso, que este sábado reuniu a concelhia do Montijo para apresentar a sua demissão a poucos meses das autárquicas ficando o concelho ainda sem candidato definido.
João Afonso acredita que a direção do partido não esperava este desfecho que, na prática, torna mais difícil aquela que poderia ser uma vitória histórica para o PSD no distrito de Setúbal.
“Os partidos estão habituados a que se dependam da política. Eu não cedo. Prefiro perder a câmara a perder a cara. Sou eu que vivo no Montijo”, justifica-se à VISÃO, notando o impacto negativo que poderá ter para o concelho o encerramento da maternidade do Barreiro.
Para já, fica “como militante de base”, afirmando estar “em reflexão” até às autárquicas e garantindo estar fora de questão encabeçar nestas eleições uma candidatura contra o PSD. “Não serei candidato nem pelo Chega nem por um movimento independente”, afiança.
João Afonso, que assume já ter sido sondado pelo Chega para uma candidatura autárquica, já tinha sido alvo de reparos da distrital social-democrata de Setúbal por ter defendido, em março do ano passado, uma aliança com o partido de André Ventura para as autárquicas de 2025, em entrevista a O Setubalense.
Nessa entrevista, defendia a posição do Chega relativamente à imigração e afirmava que os eleitores do distrito “olham para o PSD não como um partido reformista e popular, com capacidade de alavancar a região, mas sim como um partido que é uma espécie de primo direito do socialismo”.