Fernando Medina teve conhecimento de que a ex-administradora da TAP Alexandra Reis havia deixado a companhia aérea com uma indemnização de meio milhão de euros “no dia 21 de dezembro com as perguntas [enviados ao ministério das Finanças] de um órgão de comunicação social [o jornal Correio da Manhã]”. Ou seja, três dias antes do artigo ter sido publicado e de o país ter conhecido o caso de Alexandra Reis, explicou o ministro das Finanças, esta sexta-feira, naquela que é a última das audições previstas na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP (em funções desde 29 de março).
Questionado pelo deputado do BE Pedro Filipe Soares, o governante admitiu que teve logo “a convicção de que se tratava de um valor particularmente significativo”. Todavia, optou por esperar pelas respostas da companhia aérea sobre o processo de despedimento de Alexandra Reis às perguntas enviadas pelo seu ministério e pelo das Infraestruturas (na altura, tutelado por Pedro Nuno Santos).
Segundo a fita do tempo reconstruída por Medina, o ministro não conseguiu falar ainda neste dia (21 de dezembro de 2022) com a sua secretária de Estado, mas quando o fez Fernando Medina nota que Alexandra Reis disponibilizou-se para “não causar nenhum problema ao Governo”.
É, no entanto, só a 27 de dezembro – porque entretanto se meteu o natal e “nem nos encontrávamos [Medina e Pedro Nuno Santos] em Lisboa nesses dias” – que o ministro considera que “não haveria condições políticas” para Alexandra Reis continuar no seu ministério e lhe pede então que se demita. Pois, era “preciso proteger a autoridade política do ministério das Finanças”, justificou Medina, na comissão de inquérito, onde repetiu que até à data anteriormente mencionada não conhecia os contornos da saída da ex-administradora da TAP.
É por esta altura que o governante – em conjunto com o ex-ministro das Infraestruturas – pede um parecer sobre a indemnização à Inspeção-Geral das Finanças, que demora dois meses a entregá-lo. Mas, quando o faz, deixa tanto Medina como João Galamba (que entretanto substituiu Pedro Nuno Santos) sem duvidas: “tornou-se para mim claro que todo o processo de saída da engenheira Alexandra Reis foi ilegal” e, por isto, o ministro considerou que “o único caminho possível era a demissão da CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, e do chairman Manuel Beja.
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De acordo com o ministro das Finanças, ainda em resposta às perguntas do parlamentar do BE, Christine Ourmières-Widener foi chamada ao seu gabinete para uma “reunião formal”, em que lhe foi comunicado de forma “inequívoca” que “não seria possível a sua continuidade e que ia propor o inicio do processo da sua demissão por justa causa”. Versão que contraria a da ex-CEO da TAP, contada à mesma comissão de inquérito: Christine Ourmières-Widener disse-se surpreendida pelo telefonema de João Galamba, na manhã seguinte a esta reunião, a falar sobre a sua demissão.
Fernando Medina, por sua vez, garante que se tratou de “uma reunião muito difícil para ambos [para si e para a ex-CEO]”, mas reafirma que foi claro no seu pedido de demissão.
Recorde-se que Fernando Medina assumiu a pasta das Finanças a 30 de março do ano passado, um mês depois da saída da ex-administradora da TAP, com uma indemnização de meio milhão de euros. Alexandra Reis passou, de seguida, brevemente, pela presidência da NAV Portugal — Navegação Aérea; antes de ser convidada a para ser secretária de Estado do Tesouro de Medina, no final do ano passado. Demitiu-se, em dezembro de 2022, na sequência das notícias sobre a indemnização milionária que havia recebido da TAP.