“Lutarei sempre pela dignidade”. Acabava Carlos Moedas de pronunciar tal frase na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), esta terça-feira, numa defesa que estava a fazer da sua interpretação sobre a imigração e já depois de ter dito que não aceitava lições “de ninguém” sobre o assunto, quando foi interrompido devido à entrada no hemiciclo de dois agentes da PSP de Lisboa.
O presidente da Câmara de Lisboa e as bancadas políticas foram apanhados de surpresa com o gesto das autoridades, tendo a presidente da AML, Rosário Farhmouse, sido obrigada a parar a sessão para perceber o que acontecera.
Na origem da interrupção terá estado um pedido do eleito do Chega, Bruno Mascarenhas, desagradado com as declarações de Miguel Graça, deputado independente da bancada dos Cidadãos por Lisboa/PS.
Após uma intervenção de Mascarenhas sobre imigração, Graça pediu à presidente da AML que enviasse às entidades competentes a “declaração racista e xenófoba” do deputado do Chega. “É um crime de ódio associar a nova mesquita de Lisboa [que poderá ser construída na Mouraria] ao Islão radical”, apontou Miguel Graça, que aludiu somente à declaração.
Ora, quando Moedas intervinha em resposta ao BE, os agentes da PSP entraram no anfiteatro do Fórum Lisboa, sede da AML, e, após uns minutos, saíram com um deputado, que ninguém percebeu quem era, levando o líder da bancada do PSD, Luís Newton, a apelar a Rosário Farmhouse para se “apurar se [o deputado que acompanhara as autoridades] saiu de livre vontade ou foi levado pela PSP”.
Depois de Farmhouse ter pedido que os deputados “resolvessem o problema fora da sala” e mostrar-se surpreendida pelo que estava a acontecer, lá se percebeu que quem tinha saído com os agentes da PSP era o deputado do Chega, levando a que todas as outras bancadas protestassem contra tal incidente e questionassem a forma como a polícia tinha parado uma sessão de um órgão político.
Cerca de 20 minutos depois, acabou por ser a presidente da Assembleia Municipal a explicar o sucedido: Bruno Mascarenhas chamara a PSP e os agentes “inadvertidamente” entraram na reunião acompanhados por um adjunto do Chega. Uma queixa contra o comportamento dos agentes já tinha sido entretanto feita, por terem levado a cabo uma ação proibida por lei.
Perante a explicação, a centrista Margarida Bentes Penedo e o social-democrata Luís Newton criticaram fortemente o gesto, com o deputado do PSD a falar em “algo inenarrável” e “um insulto à democracia”. “Não só é inadmissível este comportamento, como ele é praticado por uma bancada que tenta destruir com este gesto a casa da democracia de Lisboa, trazendo para dentro da sala as forças da segurança pública”, acusou, por outro lado, o líder da bancada do PS, Manuel Portugal Lage.
Entre um “inaceitável”, sinalizado pelo BE, e o “modus operandi deste partido [Chega] para minar a democracia”, como referiu o Livre, partiu da deputada comunista Natacha Amaro apontar baterias à presidente da AML e a pedir “responsabilidades” por aquilo que disse ser “a segunda vez” que a polícia entra de rompante na AML – sendo que da primeira vez aconteceu durante os trabalhos de uma comissão da AML, mas com agentes da Polícia Municipal, segundo o MPT.
Pedindo “consequências do que aconteceu”, Jorge Nuno Sá, líder do Aliança, questionou as “regras de segurança” em vigor na AML, entre as quais a falta de cartões identificativos, questionando se, após “a entrada na sala de dois cidadãos armadas, neste caso polícias”, não há o risco de, a qualquer momento, ali “entrarem cinco cidadãos armados”. A IL secundou este pedido do Aliança.
A VISÃO questionou o Comando Metropolitano da PSP/Lisboa e a Polícia Municipal de Lisboa sobre o ocorrido, mas ambas as polícias ainda não deram qualquer resposta.
Refira-se que desde há alguns meses, a estratégia do Chega e dos seus eleitos é de socorrerem-se das autoridades, policiais e judiciais, contra quem os acuse de ideias racistas, xenófobas e extremistas.