A redução de impostos, as criticas à TAP e ao Governo socialista são alguns dos chavões que os unem, mas representam vozes distintas nas propostas para o futuro da Iniciativa Liberal. O candidato presidencial Mayan Gonçalves tem sido um dos rebeldes do partido, enfrentando uma direção que há dois anos o escolheu para representar a IL; Pedro Schuller é um dos rostos da atual Comissão Executiva com o pelouro da Juventude; e Nuno Simões de Melo, “o coronel”, representa um pequeno exército de descontentes com o rumo do partido, que, entre outras coisas, têm duvidas sobre a despenalização da eutanásia. Este fim-de-semana, reunidos na VII Convenção Nacional da IL, no Centro de Congressos de Lisboa, lutam para que o sucessor de João Cotrim de Figueiredo seja o mais fiel possível ao seu liberalismo.
Tiago Mayan Gonçalves, 45 anos
Ex-candidato presidencial da IL, advogado do Porto
“Como liberal defendo a presença do Estado. Os anarquistas é que defendem a inexistência do Estado. Defendo um Estado com funções de soberania, com papel de regulação e fiscalização em praticamente todos os setores, mas não há necessidade de o Estado ser prestador de serviços e de manietar as atividades económicas”. As palavras são de Tiago Mayan Gonçalves, o único candidato presidencial da IL, que elege as políticas económicas como a principal marca dos liberais, sem se “colocar em caixinhas”.
Apoiante da candidatura de Carla Castro nesta Convenção, o advogado portuense está satisfeito com a “pujança e a vivacidade” que encontrou no Centro de Congressos de Lisboa, mas alerta que “este é o momento” para a IL agarrar a “oportunidade e dar um salto qualitativo em termos de atitude, gestão e posicionamento”. Enumerando que as principiais motivações do partido devem incidir na “afirmação de novas mensagens, como o discurso do mérito para quem trabalha, um novo discurso dirigido à função publica, outro para os seniores, outro para os trabalhadores precários, outro para o interior” e outro ainda que melhor a abordagem “aos temas da liberdade de escolha na educação e na saúde”.
Pedro Schuller, 27 anos
Membro da Comissão Executiva da IL com o pelouro da Juventude, consultor na área da analítica empresarial, Porto
“Ser jovem liberal em Portugal quer dizer que se é uma pessoa que vai viver durante mais tempo com as consequências das escolhas dos nossos governantes, com as politicas que nos trouxeram até aqui e que não agouram nada de bom para seu futuro”. É Pedro Schull quem traça o retrato-robô. E continua: “é alguém que não se conforma com a inevitabilidade de ter de emigrar para trabalhar; é alguém que acredita que a maximização da liberdade do individuo é a solução para o crescimento”, resumindo que um “jovem liberal é um inconformado”.
Segundo o atual representante da juventude do partido – que começou por militar aos 16 anos no CDS por “influencia de amigos” e que chegou à IL em 2019 -, as principais preocupações dos mais novos são a “redução da carga fiscal das pessoas e das empresas, a reforma do sistema da segurança social para um modelo em que cada um contribua para a sua própria reforma, a saúde mental, a mobilidade e a habitação”. No caso desta última, a solução, segundo o jovem portuense, passa por “haver mais casas para equilibrar a oferta e a procura. Temos de ter regulamentos muito fortes, os licenciamentos camarários demoram muito tempo e isso reduz a oferta de habitação no mercado e empurra os preços para cima”.
Nuno Simões de Melo, 57 anos
Deputado Municipal em Mafra, militar na reserva
“Dá a sensação de que a IL se deixa enredar na espuma dos dias e que abraça um conjunto de causas identitárias muito do agrado do Bloco de Esquerda, que no meu entendimento é uma transferência para o século XXI da luta de classes anacrónica do marxismo do século XIX. Eu não quero a IL seja uma melancia azul: que seja muito liberal nas contas e depois abrace causas que mais não são do que as de Marx”. A leitura é feita pelo cabeça de lista de uma das candidatura ao Conselho Nacional da IL, insatisfeito com a direção de Cotrim e defensor de uma linha mais conservadora dentro do partido. Diverge com liderança demissionária em assuntos como a despenalização medicamente assistida, que gostaria de ter visto ser sujeita a referendo.
“Considero que [a Eutanásia] é um assunto fraturante, que merecia uma discussão de fundo na sociedade” e “daria liberdade de voto ao grupo parlamentar” . Já sobre “as principais causas de atraso do nosso país”, Nuno Simões de Melo acredita que estas são “o socialismo, o coletivismo e o centralismo”.