“Em função do teor das notícias divulgadas (…) por diversos órgãos de comunicação social, que dão conta da alegada publicação por agentes das forças de segurança, em redes sociais, de mensagens de conteúdo discriminatório, incitadoras de ódio e violência contra determinadas pessoas, bem como difusoras de juízos ofensivos da sua honra ou consideração, e considerada a extrema gravidade dessas alegadas mensagens, determino que a Senhora Inspetora-Geral da Administração Interna proceda, de imediato, com caráter prioritário, à abertura de inquérito para o apuramento, em toda a sua extensão e profundidade, do teor do noticiado.”.
É um texto curto, mas não ilude a gravidade do problema. Antecipando-se ao conteúdo da edição desta quinta-feira da VISÃO e às notícias entretanto veiculadas por outros órgãos de informação a partir das revelações do Consórcio de Jornalistas de Investigação, o ministro José Luís Carneiro não perdeu tempo. À IGAI não falta matéria sobre este submundo das polícias portuguesas.
Na investigação levada à cabo pela VISÃO estão em causa, na maioria dos casos, dezenas de profissionais da PSP e militares da GNR que, além de militarem ou terem estado inscritos no Chega (a filiação partidária e a atividade política são proibidas no caso dos elementos das forças de segurança no ativo), publicaram e partilharam nas redes sociais, em perfis abertos, publicações que poderão ser consideradas de índole racista, xenófoba e propagadora do ódio.
A essa matéria juntam-se as revelações do Consórcio de Jornalistas de Investigação, replicadas em vários órgãos de informação, entre eles a VISÃO.
A partir do trabalho de um grupo de investigadores digitais que compilou informações e publicações nas redes sociais relativas a 591 profissionais da PSP e da GNR, foi possível ao CJI aceder a 3090 conteúdos que entram facilmente no território criminal, entre eles ameaças, campanhas de ódio, discriminação e preconceito, violando as leis da República e os seus códigos de conduta, uma vez que estão subordinados “ao interesse público” e à “defesa da legalidade democrática, da segurança interna e dos direitos fundamentais dos cidadãos, nos termos da Constituição e da lei”. Dos quase 600 assinalados, 76 por cento (447), simpatizam com o partido ou André Ventura, além de impulsionarem a propaganda do Chega.
No terreno, segundo números oficiais fornecidos à VISÃO pelo próprio MAI, são para cima de 42 mil efetivos a nível nacional. No mundo digital, porém, centenas deeles atuam em “campo aberto” ou grupos fechados, sem sequer despir a verdadeira identidade, e usam os perfis pessoais para dar corda ao discurso extremista, com ameaças a minorias e figuras públicas, incentivos à insubordinação e à luta contra o “sistema”.