Luís Montenegro subiu ao palco do Super Bock Arena, no Porto, este domingo, com a confiança reforçada, depois de três dias de um Congresso sem ondas, em que mesmo aqueles que não estarão tão satisfeitos com o novo presidente do PSD (que os há) lhe deram o beneficio da duvida. As suas escolhas arrojadas para os órgãos do partido – que incluem dois ex-candidatos à liderança do partido, estrelas, a nova geração e recupera nomes ligados ao passismo – deram-lhe crédito, que Montenegro multiplicou a cada palavra proferida com pujança contra os socialistas, no discurso de encerramento da reunião magna, que o entronizou como presidente do PSD.
“Governar não se pode resumir a reagir aos problemas, depois das coisas correrem mal”, atirou ao PS, que acusou de “tresandar a velho”, de estar “gasto, desorganizado e desnorteado”, sem respostas para a saúde e para a educação por “preconceito ideológico” e sem capacidade de fazer face à inflação galopante, causada pelo contexto internacional.
Perante este diagnóstico, Luís Montenegro prometeu a uma sala cheia de sociais democratas que tudo fará “para dar um novo Governo a Portugal”, sem “nunca violar os princípios e valores” do PSD. Cedências “a qualquer política xenófoba ou racista” não vão acontecer, garantiu o líder, numa alusão ao Chega; estabelecendo um paralelismo com a “Geringonça”: “Nós não somos daqueles que ultrapassam muros para abraçar o extremismo, só para sobreviver politicamente”, disse.
As sete prioridades do novo líder
A estratégia de Montenegro passa por aproveitar os próximos quatro anos para se meter em terreno e explicar aos portugueses o seu projeto alternativo para Portugal, investindo até lá numa oposição com propostas concretas. A palavra de ordem é “ação” e o presidente “laranja” aproveitou o encerramento do Congresso para clarificar desde logo as suas sete prioridades para os próximos tempos:
- Programa de Emergência Social será uma das primeiras propostas de Montenegro para tentar controlar o impacto da inflação na vida dos portugueses. A ideia é aproveitar “o excedente criado pela repercussão da inflação na cobrança dos impostos” investindo em “medidas como um vale alimentar mensal às famílias de mais baixos rendimentos, a renovação de descidas ou suspensões na fiscalidade sobre os combustíveis, uma intervenção na fiscalidade, contribuições associadas ao consumo de eletricidade e apoios ao setor agrícola, pecuário e pescas”, explicou.
- Na saúde, Montenegro considera fundamental “reformar, reestruturar e reorganizar o SNS”, integrando os setores social e privado na resposta.
- Menos impostos e mais crescimento económico é outra das bandeiras do novo líder, que prometeu medidas concretas neste âmbito para os próximos tempos.
- Políticas para os jovens, nomeadamente de apoio à habitação, melhoria de salários e incentivos fiscais como a “discriminação positiva em sede de IRS para jovens até aos 35 anos com uma taxa máxima de 15%”.
- Um Programa Nacional de Atração, Acolhimento e Integração de Imigrantes, que faça face à ausência de mão de obra nacional. Montenegro sugere: “olhemos para países como a Alemanha, o Canadá ou a Austrália e assumamos um programa nacional de recrutamento e integração que nos auxilie na sustentabilidade económica e social do país”.
- Um Pacto sobre a transição digital, energética e ambiental, que envolva os “poderes públicos, a academia, os parceiros sociais e associativos, com metas e objetivos”.
- Descentralização e regionalização. Montenegro criticou ainda o Governo por fazer uma descentralização que é “um logro”, em que os “os municípios são os tarefeiros da incompetência e incapacidade da administração central”, disse, parafraseando o autarca de Lisboa, Carlos Moedas, que se dirigiu, no sábado, ao Congresso. Já sobre a regionalização, defendeu que um referendo em 2024 – como o PS propôs – “não é adequado” por causa da situação internacional. “Fazer um referendo neste quadro crítico e delicado seria uma irresponsabilidade, uma precipitação e um erro”, acredita e, por isso, avançou nos últimos minutos do seu discurso que se o PS insistir nesta ideia “avançará sozinho”, sem “a cobertura e o aval do PSD”.