O vírus pode decidir quem formará governo em Portugal. É um cenário extremo, e, no entanto, matematicamente possível. Já com as previsões afinadas, desde que o número de casos começou a refletir as restrições impostas pelo Executivo no final de 2021, os epidemiologistas que entregam a António Costa as projeções da pandemia estimam que possa haver entre 450 mil a 500 mil pessoas em isolamento, nos sete dias que antecedem as eleições legislativas – momento a partir do qual os cidadãos ficam impedidos de exercer o seu direito de voto. Menos do que isso, 335 mil votos separaram socialistas da coligação entre sociais-democratas e centristas (PàF), em 2015; e esta promete voltar a ser, de acordo com as sondagens divulgadas em dezembro, uma corrida renhida. O Presidente da República dissolveu o Parlamento e convocou eleições antecipadas, na sequência do chumbo do Orçamento do Estado de 2022, para os portugueses clarificarem o que querem. Conseguirão fazê-lo com a cortina de fumo lançada pela nova variante Ómicron?
Nas próximas semanas, as máquinas partidárias sairão à rua, com as devidas distâncias, já testadas nas presidenciais e nas autárquicas do ano passado. E se a resposta do Governo à pandemia será vendida pelo PS como um trunfo político, para a oposição pode tornar-se uma arma de arremesso. Numa eleição que volta a contar com a ascensão de estrelas ligadas à medicina (Ver caixa), subsiste, contudo, uma vantagem em relação às anteriores: ao que tudo indica, e apesar de ser mais contagiosa, a nova variante Ómicron, que, em tempo recorde, predominou sobre a Delta, é, também, menos perigosa.