
Em palco não é o Messias, mas parece. Telemóveis ao alto, os fiéis transmitem em direto, no Facebook, os discursos do líder da nova direita radical populista e difundem-nos em massa nas redes sociais. Frenéticos, querem tocá-lo no final das sessões, segredar-lhe algo, tirar uma fotografia. André Ventura, qual “selfie” made man, nunca se escusa nem se cansa. Quando a pandemia “suspendeu” o País, o conta-quilómetros de Ventura não tinha parança. De Viseu a Portalegre, o presidente do Chega juntava afetos à faceta de redentor. E fazia-o sem floreados.
Vírus da democracia para adversários, os fiéis veem nele a vacina contra a má política. Ele quer resgatar almas atormentadas por um sistema “sempre ao lado dos bandidos”, libertá-las do “lamaçal” da política, da “palhaçada” do Parlamento, do “veneno” da corrupção, “dos que não querem fazer nada”, dos “violadores e homicidas” e dos impostos que deixam empresários “atolados”. Para Ventura, vivemos num “País ao contrário”, onde se paga “6% de IVA para se entrar numa feira erótica e 23% pela eletricidade”. Antes da Covid-19, já o deputado retratava a Nação em modo catástrofe. Bruxo? Apenas um profissional do palanque, treinado no comentário desportivo na CMTV (que entretanto, abandonou), e bom conhecedor das audiências.
Os repastos comicieiros do Chega, a uns 20 euros por cabeça, atraem revoltados contra o Estado “gorduroso”, empresários “moderados”, velhos abstencionistas e ex-eleitores de outros partidos saturados de “vícios” e de governos de “pulhas”. Acorrem comensais com a pulseira do Movimento Zero, polícias, militares e seguranças ciosos de ordem e de autoridade. Há gente cansada de impunidades e militantes que espumam quando ouvem “as manas Mortágua”. Outros, fartos de “parasitas com Mercedes à porta”, querem mão dura para com os ciganos. É o caso de António Nunes, de 69 anos, do setor de exportações do grupo Visabeira, presente no jantar do Expocenter, em Viseu, em finais de fevereiro. “A passagem por África vacinou-me contra o marxismo-leninismo”, garante o ex-CDS. “Aderir ao Chega minou o meu ambiente social, é assunto tabu. Parece que tenho um vírus.”
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