O ministro das Finanças admite que o desemprego em Portugal possa ficar “ligeiramente abaixo” dos 10% no final de 2020 e calcula em 15 mil milhões o impacto da pandemia na economia portuguesa só com a paralisação registada no mês abril. Por outro lado, Mário Centeno não tem “dúvidas nenhumas” de que o momento crítico para a economia aconteceu em abril. De qualquer modo, o ponto é este: “Não é o tempo de pensar na fatura” da Covid-19.
Em entrevista à RTP, o ministro das Finanças anunciou um “aumento do número de registados [nos centros de emprego] na ordem dos 75 mil a mais, face a abril do ano passado”. Até ao final do ano, e ainda a acusar as consequências da pandemia na atividade económica, a previsão é a de que a taxa de desemprego “possa vir a crescer três, quatro pontos percentuais” face aos valores do início do ano. Isso significa que, em 2020, o desemprego poderá ficar “ligeiramente abaixo” dos 10% estimados pela Comissão Europeia.
Pelo menos, em tese. Centeno fez questão de assinalar que se há palavra que escolheria para resumir o momento que se vive, ela é “incerteza”. Desde logo, porque não é certo que não venham a surgir novas vagas de propagação do novo coronavírus e, por isso, também não há garantias sobre as medidas que possam ter de vir a ser adotadas para reagir à crise sanitária.
“Se conseguirmos reabrir a economia”, como começou a fazer-se no início desta semana, após o fim do estado de emergência, então o ministro das Finanças acredita que a fase mais aguda da crise económica em Portugal já terá passado. “Não tenho dúvidas nenhumas de que abril foi o momento mais dramático desta crise sanitária”, naquilo que foram os impactos sobre a atividade económica. Só nesse mês, o PIB nacional encolheu cerca de 6,5% face aos valores pré-crise sanitária, e isso terá “roubado” à riqueza nacional qualquer coisa como 15 mil milhões de euros. “Em maio”, garante Centeno, “já estamos a ver mais atividade” e a expectativa é a de que esse caminho possa continuar nos próximos meses. Se assim for, “o terceiro trimestre vai ser de forte recuperação”, com um abrandamento no último trimestre de 2020. “Prevemos que ao longo de 2022 estejamos a recuperar os níveis de atividade de 2019”, admite o ministro das Finanças na entrevista à RTP.
Afastada está, aos olhos de Centeno, uma crise de financiamento da dívida nacional. “Não temos porque temer isso”, diz Centeno, recordando que o valor previsto para a dívida pública no final do ano, nas contas da Comissão Europeia, é de cerca de 132% do PIB. “Uma décima acima do que tínhamos obtido em 2016” e sem motivos para alarme, assegura o também presidente do Eurogrupo.
Vestindo esse fato europeu, Centeno destaca que “Lisboa foi o centro” do processo de decisão europeu que permitiu, por exemplo, que os Estados da zona euro acordassem num programa de 500 mil milhões para apoiar as economias nacionais na resposta à crise sanitária. “É algo que nos deve encher de orgulho”, diz, admitindo que as reuniões com os congéneres europeus foram “tensas” mas centradas à volta de “um objetivo comum”.
Mesmo assim, faltam decisões. Sobretudo, ao nível da Comissão Europeia e da forma como Bruxelas vai garantir a cada um dos países o acesso a financiamento para pagar os custos com a resposta sanitária, primeiro, e com a reconversão das economias, depois. “Há muitas negociações em curso”, diz apenas Mário Centeno, garantindo que, seja qual for o plano de Ursula von der Leyen (que devia ter sido apresentado na quarta-feira, 6), “vai ser um compromisso” entre as diferentes sensibilidades europeias “e vai ser duradouro”.