Enquanto transcreviam centenas de escutas telefónicas e analisavam a correspondência eletrónica da Operação Tutti Frutti, os inspetores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária (PJ) foram surpreendidos por emails em que Sérgio Azevedo, deputado e ex-vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, dava indicações detalhadas a amigos empresários amigos sobre como todos poderiam lucrar com contratos assinados com a Junta de Freguesia de Santo António, junta lisboeta liderada pelo social-democrata Vasco Morgado.
O nível de pormenores de algumas destas mensagens de correio eletrónico, conjugado com escutas telefónicas que estão a ser transcritas, leva os investigadores a suspeitar que Sérgio Azevedo terá montado, juntamente com funcionários daquela junta de freguesia, um esquema de tráfico de influência, participação económica em negócio, faturação falsa e branqueamento de capitais que pode ter sido replicado noutras juntas de freguesia de Lisboa.
O plano descrito nos e-mails e em contatos telefónicos passaria por levar a que determinada empresa fosse convidada por escrito a assinar um contrato com a junta de freguesia, que esse contrato fosse adjudicado mas que, no final, nenhum ou pouco trabalho fosse feito em prol daquele órgão executivo local.
De acordo com informações recolhidas pela VISÃO, nos planos alegadamente traçados por Sérgio Azevedo, pelo menos parte da avença mensal paga pela junta deveria ser reinvestida na contratação do escritório de advogados onde aquele deputado do PSD trabalha: a Legal Seven, uma nova sociedade de advogados com sede perto da Praça de Espanha, em Lisboa.
Um dos destinatários dos emails de Sérgio Azevedo é Jorge Varanda, um advogado de Braga que foi constituído arguido no final de junho na Operação Tutti Frutti – que investiga trocas de influências entre militantes do PS e do PSD para conseguirem posições estratégicas, avenças e contratos públicos e ainda financiamento proibido de partidos políticos e falsificação de fichas de inscrição de militantes.
Perante a ausência de resposta de Jorge Varanda, os investigadores acreditam que Sérgio Azevedo – que ainda não foi constituído arguido nem interrogado neste inquérito, mas esteve sob escuta – terá recorrido a outro amigo – José Paulo do Carmo – para levar avante o seu plano. A história obriga a explicar um quadrado de relações que vão desembocar no deputado do PSD.