A conclusão é da Confederação Europeia de Sindicatos (CES) e indica que “o peso dos salários em relação ao PIB [Produto Interno Bruto] está em declínio desde meados da década de 1970” na generalidade dos países da União Europeia. A organização a que estão afetas a CGTP e a UGT sublinha num estudo publicado esta semana que a queda do rácio entre rendimentos do trabalho e o produto de cada estado-membro acentuou-se desde a década de 1990 e dá conta de que se a proporção se tivesse mantido nos últimos cerca de 27 anos cada europeu ganharia em média mais 1.764 euros por ano do que aquilo que aufere atualmente.
O cálculo mostra que apenas 60,5% do PIB é aplicado em salários, o que significa que, em termos brutos, a remuneração dos trabalhadores em Portugal poderia ser 1.890 euros/ano mais alta, se estes equivalessem a 66% do produto nacional, conforme acontecia na médica comunitária no início da década de 1990. A título de exemplo, em Espanha haveria um acréscimo de 2.806 euros, em Itália de 3.354 euros, na Alemanha de 2.169 euros e a maior diferença verificar-se-ia na República Checa, com o aumento médio a atingir os 4.107 euros.
Esther Lynch, secretária confederal da CES, afirma que está em curso “um roubo salarial”, uma vez que “os ricos continuam a enriquecer à custa de pessoas que dependem do seu salário para viver”. Mas vai mais longe e vinca que “as empresas arrecadam uma maior proporção de receita, como lucros, à custa de salários”. Por isso, explica, a Europa “precisa de aumentos salariais para reduzir a desigualdade e para impulsionar o crescimento económico”, dado que os “os ricos colocam o dinheiro no banco”, ao passo que “os trabalhadores gastam os seus salários em bens e serviços que beneficiam as empresas e que criam empregos”.
A resposta para o problema, sustenta Esther Lynch, é de resto similar à que Bruno Teixeira, secretário executivo da UGT, dá à VISÃO. “É preciso reequilibrar a distribuição entre a remuneração do trabalho – porque tem havido um grande desinvestimento no trabalho – e desbloquear a contratação coletiva”, aponta o sindicalista.
Bruno Teixeira usa o exemplo dos CTT, empresa que, considera, “se afundou para distribuir dividendos” e avisa que a central sindical liderada por Carlos Silva vai apresentar este relatório da CES na próxima reunião da Comissão Permanente de Concertação Social como “argumento” para mostrar ao Governo e aos representantes das confederações patronais que é necessário alterar as regras do jogo.
Ora, segundo os dados mais atualizados da PORDATA, referentes a 2016, o salário médio em Portugal terá sido de 924,90 euros. Se a esse montante acrescerem os tais 1890 euros brutos anuais (diluídos por 12 vencimentos e dois subsídios e sem que fossem incluídos os respetivos impostos e as contribuições para a Segurança Social), cada português poderia levar para casa qualquer coisa como mais 135 euros/mês.