Os últimos tempos no PSD assemelharam-se aos de uma guerrilha. Houve trincheiras e contagem de armas. Houve ataques abortados e golpes baixos em confrontos que se esperavam mais calmos. Pelo ar, chegou a pairar a ideia de que se vivia uma guerra fria, por vezes até uma paz podre. Terá sido talvez este clima que levou Passos Coelho a escolher a gíria bélica para tentar apaziguar as hostes: “Estou aqui como um soldado a contribuir para união do nosso partido.”
Este foi um dos vários momentos em que os congressistas se levantaram para aplaudir efusivamente o ex-primeiro-ministro, enquanto gritavam ritmadamente as letras que compõem a sigla PSD. O líder cessante lembrou os tempos da sua governação, olhou para o passado com orgulho e recordou a importância que o CDS teve no período em que os dois partidos fizeram parte do mesmo governo. “Foi importante e será importante para o futuro”, afirmou, como se quisesse indicar ao novo líder quais os aliados ideais para uma eventual joint venture.
Olhou para o presente a atacou a geringonça, que apenas pretende “equilibrar no dia-a-dia para sobreviver no médio prazo.” E avisou que “é preciso bater” a atual solução de governo, embora, ressalvou, não seja “fácil” fazê-lo. Foi nas críticas ao PS e aos partidos que suportam o seu Executivo que encontrou a união da plateia, que se galvanizava a cada ataque que fazia.
Num discurso que durou pouco mais de meia hora, procurou a união e dirigiu-se aos dois candidatos à liderança do partido. A Pedro Santana Lopes deixou uma mensagem de consolo: “a sua derrota não foi derrota honrosa, foi muito melhor do que isso: foi a promessa de união para o partido.” A Rui Rio expressou confiança e esperança: “Tenho a certeza de que quem ganha tem sempre o gesto mais relevante para construir a união no partido.”
No seu último discurso como líder do PSD, Passos Coelho avisou que se irá afastar apesar de estar disposto a colaborar com o partido neste novo ciclo, trabalhando com o novo presidente quando ele necessitar. Nos primeiros tempos estará, certamente, na retaguarda. Entretanto estará já a pensar na próxima ofensiva? A julgar pelos aplausos que o receberam quando voltou para a plateia e que, mais tarde, o acompanharam até à porta do Centro de Congressos de Lisboa, quando deixou a reunião magna, há muitos militantes que o desejam.