Ia de férias dia 10, mas dia 9 de agosto, os incêndios começaram a consumir a Madeira e Ciriaco Campus, diretor geral do Belmond Reid’s Hotel, no Funchal, mudou de ideias. Havia coisas mais importantes a fazer. Mandou um sms para o comandante dos Bombeiros a disponibilizar a sua ajuda pessoal e a do hotel que dirige – um hotel de cinco estrelas, inaugurado em 1891, e por onde passaram Winston Churchill (aquele que “facilmente se satisfazia com o melhor” passou lá uma temporada, em 1950), o imperador Carlos da Áustria, o poeta Rainer Maria Rilke, o dramaturgo George Bernard Shaw ou os atores Roger Moore e Gregory Peck.
Bombeiros e Proteção Civil puderam contar com a colaboração do Reid’s durante oito dias seguidos, até a ajuda deixar de ser necessária. Forneceram pequenos almoços, almoços, jantares, kits (de sanduiches, fruta e bebida), água, leite, sumos, fruta, papel higiénico, shampoo, litros de gel de banho, toalhas, lençóis e entregaram, segundo as necessidades, na Proteção Civil e nos vários pontos de realojamento: o RG3 (quartel militar), a pousada da Juventude, num colégio do Caminho do Monte, no estádio dos Barreiros. Chegaram a entregar mais de 200 refeições quentes e 150 kits por dia.
Foram horas de trabalho em que cada funcionário participou de forma espontânea, voluntariamente, prescindindo de horas extraordinárias e folgas. “Reconhecemos que era um momento excecional e sentimos necessidade de arregaçar as mangas e ajudar quem precisava”, explicou à VISÃO Ciriaco Campus.
Houve custos, mas em Londres, a Belmond (empresa detentora do Reid’s), que tem “sensibilidade em relação ao projeto de responsabilidade social e que sabe que o hotel tem responsabilidades perante a comunidade” funchalense, não pôs obstáculos. De qualquer forma, diz Ciriaco, “os custos não são nada, perante o que aconteceu e perante o que a ilha sofreu”.
Mas o apoio não se ficou por aqui. Realojaram clientes de outras unidades hoteleiras – os Jardins do Lago, onde houve ameaça de fogo e o Choupana Hills – e Ciriaco Campus ainda se comprometeu, pessoalmente, a ajudar um funcionário a reconstruir a sua casa, na Choupana.
No Reid’s, fez-se o mesmo no 20 de fevereiro e, como agora, não fez publicidade disso. Porque, apesar de tudo, “são experiências que nos enriquecem.”