Porque as músicas têm o dom de nos transportar para memórias que guardamos esquecidas, os acordes de Vangelis voltaram a soar bem alto num Congresso do PS emocionado por receber António Guterres.
Como um bom filho que à casa torna, aquele que liderou os socialistas há 15 anos, não escondeu o significado daquele momento: “Não imaginam as saudades que tinha de aqui estar”. Não participava desde 2000 nos conclaves socialistas. Na altura, depois de se demitir de primeiro-ministro em 2001, não quis ficar como um “back seat driver” do PS e resguardou-se nos bastidores.
Em 2005, quando se tornou Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o cargo impedia-o de participar nas reuniões partidárias. E agora, lembra que corre “o risco” de não poder voltar ao meio dos socialistas “no futuro”, numa alusão à candidatura que está a protagonizar para secretário geral da ONU.
Foi recebido em apoteose, por um congresso que se colocou de pé quando Carlos César anunciou o seu nome e Ana Catarina Mendes o encaminhou ao palco. Não quis discursar. Mas antes de ocupar o lugar na Comissão de Honra, foi ao púlpito manifestar toda a “solidariedade” com Costa, PS e Portugal e lhes desejar êxito.
A pergunta: “o que seria do PS se tivesse apoiado a direita”?
Num congresso que tem sido morno, este foi um dos poucos momentos de emoção. Francisco Assis era ainda o único nome que se esperava que pudesse desafinar o tom de uma reunião alinhada com a “geringonça” e empenhada em saudar a “visão política” de António Costa. Mesmo Sérgio Sousa Pinto, outra das vozes críticas da solução de esquerda que sustenta o governo, veio ao congresso para voltar a integrar um órgão do partido – a Comissão Nacional – e preferiu “não tirar o talão” para falar.
Uma pergunta foi insistentemente lançada aos congressistas por vários daqueles que estão mais próximos do líder. O que seria do PS se tivesse dado a mão à direita a seguir às eleições? Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta acredita que os socialistas estariam agora a “penalizar-se pelo empobrecimento do país”. Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, assume que essa decisão teria conduzido à “descredibilização ética” do partido.
A consagração da “geringonça”, que António Costa pediu que seja feita neste congresso logo no discurso de abertura, na sexta-feira, tem estado presente em quase todos os discursos. Os elogios têm-se repetido e mesmo os mais céticos assumem que ela tem funcionado.
Ana Catarina Mendes vaticionou: “A geringonça funciona, está cá e vai continuar a trabalhar diariamente para melhorar a vida dos portugueses”.