As Sete Maravilhas do Mundo Antigo são construções que continuam a fascinar, apesar de atualmente apenas uma continuar de pé: a Pirâmide de Gizé, no Egito. O mistério sobre as restantes seis, e até a dúvida sobre se todas, de facto, existiram, continua a ser um tema que gera curiosidade.
Bethany Hughes, historiadora que viu o seu livro “The Seven Wonders of the Ancient World” (As Sete Maravilhas do Mundo Antigo) publicado na semana passada no Reino Unido, desvenda o destino de cada uma destas construções que, nos seus tempos, impressionaram pela grandiosidade, beleza e inovação.
A Grande Pirâmide de Gizé
É a única das Sete Maravilhas do Mundo Antigo que resiste. Construída por volta de 2560 a.C. como túmulo para o rei Khufu, o segundo faraó da quarta dinastia do Antigo Egito, tem mais de 2,4 milhões de blocos de calcário e uma altura de 138,8 metros. Até ao século XIV, foi considerada o edifício mais alto do mundo, sendo nessa altura ultrapassado pela Catedral de Lincoln, em Inglaterra. Acredita-se que foram necessários mais de 20 mil trabalhadores para a sua construção e que no topo tinha uma pedra de ouro.
A Grande Pirâmide de Gizé resistiu a guerras, a terramotos e até ao uso de dinamite em 1837 pelo explorador Howard Vyse, que queria forçar uma entrada na estrutura. É a maior pirâmide de um conjunto de três, sendo que as outras duas foram construídas décadas depois. Acredita-se que existe uma correlação entre a localização destas três maiores pirâmides com as três estrelas centrais da constelação de Orion, o que pode indicar um interesse dos egípcios pelo Cosmos. Contudo, esta teoria não cria consenso entre os especialistas.
Para Hughes, a Grande Pirâmide de Gizé é o resultado “da ambição individual patrocinada pelo Estado”, tendo surgido da combinação “de uma brincadeira dos Homens entre o poder da terra e o poder da mente para dobrar as matérias-primas à sua vontade”. Apesar das marcas provocadas pela passagem do tempo, continua erguida e a atrair turistas de todo o mundo.
O Colosso de Rodes

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Foi inaugurada em 280 a.C. e esteve erguida durante menos de um século. Ainda assim, esse curto período de tempo foi suficiente para tornar o Colosso de Rodes numa das construções humanas mais aclamadas da antiguidade.
Esta estátua representa Hélio, o deus grego do Sol, e é de autoria do escultor Chares. A sua construção demorou 12 anos e a estátua acabou com 32 metros de altura. No seu interior existia um esqueleto de ferro que estava coberto por placas de bronze
Diz-se que estava erguida na entrada do porto da cidade grega de Rodes, mas há se concluiu que tal seria impossível. Atualmente acredita-se que estava antes instalada num pedestal perto da entrada do porto, como forma de dar as boas-vindas aos barcos que ali chegavam. A estátua gigante levou cerca de 12 anos para ser construída, tinha um esqueleto de ferro e era coberta com placas de bronze.
Acredita-se que terá caído em 225 a.C, na sequência de um terramoto que abalou a região. Dizem os historiadores que as ruínas da estátua ficaram caídas pelo menos até ao século VII, sendo mais tarde derretidas para sucata ou saqueadas para venda por árabes que invadiram a região no ano 654.
Apesar de a estátua ter ficado erguida poucos anos, manteve-se na imaginação coletiva e acabou por inspirar a Estátua da Liberdade que se encontra atualmente em Nova Iorque.
O Farol de Alexandria

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Das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, o Farol de Alexandria, no Egito, é a mais recente. Construído no século III a.C., em granito, mármore e calcário, tinha como objetivo ajudar os navios a chegarem em segurança ao porto de Alexandria. A cidade era na altura a porta de entrada para África e porto onde o comércio do Médio Oriente, da África Oriental e do Mar Vermelho entrava no mercado orientado para a Europa. Contudo, a costa rochosa e as correntes levaram muitos navios a encontrarem ali o seu fim. Perante combater este perigo, e para diminuir os riscos, o rei Ptolomeu II mandou construir o farol.
Acredita-se que o farol tinha 120 metros e que era composto por três níveis, com um topo circular. Contudo, o que realmente chamava a atenção era o espelho que possuía no topo e que refletia a luz do sol durante o dia e a luz do fogo durante a noite, uma sinalização para os navios. Acredita-se que a luz podia ser vista por quase 65 km. Além de ser um sistema de alerta para os navios, também funcionava como meio de comunicação, uma vez que transmitia mensagens para outras torres e faróis, erguidas a grandes distâncias de Alexandria. No seu interior existia um guindaste para o transporte de combustível e alimentos até ao topo da torre.
O Farol de Alexandria sobreviveu por mais de 1400 anos, tendo sido destruído gradualmente por três terramotos entre os séculos X e XIV. As suas pedras foram depois reaproveitadas para a construção de um forte.
O Mausoléu de Halikarnassos

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Construído em 350 a.C. na atual Turquia, foi destinado a Mausolus, governante de Cária, uma antiga região da Ásia Menor, e à sua mulher, Artemísia II de Cária. O edifício combinava os princípios arquitetónicos gregos com elementos do Oriente e do Egito.
Tinha aproximadamente 45 metros de altura, foi erigido numa colina com vista para a cidade de Halicarnasso, e cada um de seus quatro lados possuía relevos criados por quatro escultores gregos. A dimensão era tão impressionante para a época que o nome do falecido rei acabou por se tornar a palavra de origem para os grandes monumentos funerários.
Nos século XIII, uma série de sismos destruiu as colunas do Mausoléu de Halikarnassos e danificou a estrutura, sendo esta apenas reconhecível pela sua base. No século seguinte, as pedras do edifício foram usadas para a construção de um castelo.
Estátua de Zeus em Olímpia

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Construída no século V a.C dentro de um templo em Olímpia, atraía peregrinos de diferentes origens que desejavam prestar homenagem a Zeus, o pai dos deuses, segundo a mitologia grega. Tinha mais de 12 metros de altura, como forma de simbolizar a grandiosidade do deus, que surgiu sentado num trono, que assentava em mármore negro. Zeus surgia com o ceptro na mão esquerda e a deusa da vitória, Nice, na mão direita. Esculpida por Fídias em ébano ,a estátua estava coberta por cerca de uma tonelada de marfim e outra tonelada de ouro, decorada com pedras preciosas e osso polido. Terá demorado 8 anos para ser concluída.
A estátua foi admirada durante 800 anos, mas acabou por ser destruída. O terramoto de 280 que danificou o templo poderá ter causado danos à estátua. Já em 379 Olímpia passou a ser controlada pelo imperador romano Teodósio I, que praticava o Cristianimo e aboliu as práticas pagãs. Acredita-se que, nessa época, a estátua terá sido levada para Constantinopla como “um grande troféu para os imperadores bizantinos”, afirma Hughes. Terá sido nessa cidade que a estátua acabou destruída, supostamente devido a um incêndio que deflagrou em 476.
O templo terá sido completamente destruído por terramotos e tsunamis no século VI. Atualmente, não existem vestígios da estátua nem do templo que a alojou durante tantos anos.
Templo de Ártemis

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Construído na antiga cidade de Éfeso, atual Selçuk, na Turquia, era composto por 127 colunas de mármore, com 20 metros de altura cada uma. Dedicado à deusa grega da caça e dos animais selvagens, Artémis, era o maior templo do mundo antigo, e durante muito tempo o mais significativo feito da civilização grega.
A construção foi iniciada na Idade do Bronze, mas no século VII a.C. o templo foi destruído por uma inundação. Em 550 a.C. deu-se a sua construção, mas um incêndio de origem criminosa em 356 a.C. voltou a danificar a obra e obrigou a nova reconstrução. Já em 269 uma tribo germânica invadiu a cidade e provocou a destruição final daquela Maravilha do Mundo.
Segundo Hughes, esta foi a primeira das Sete Maravilhas a ser acessível tanto aos plebeus quanto aos reis e foi a única que teve mulheres no centro de sua história. Afinal, era dedicada a uma deusa adorada por muitos.
Atualmente, do templo apenas resta uma coluna solitária, que foi reerguida por arqueólogos alemães no século XIX.
Jardins Suspensos da Babilónia

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Esta é a Maravilha do Mundo Antigo que está envolta em maior mistério. Afinal, ainda não há provas concretas que confirmem que realmente tenha existido. Ninguém sabe ainda dizer ao certo onde estavam localizados ou como eram, uma vez que nunca foram encontradas evidências arqueológicas. Apesar dos relatos sobre o tema também não gerarem consenso, muitos estudiosos acreditam que os Jardins Suspensos da Babilónia foram um presente do rei da Babilónia Nabucodonosor II para a sua mulher por volta de 600 a.C.
Hughes destaca que o sacerdote da babilónia os descreveu como um conjunto de terraços sustentados por colunas de pedra e irrigados por bombas que tiravam água do rio Eufrates. Contudo, a historiadora também destaca que não se sabe de nenhum registo dos jardins feitos pelos famosos historiadores da Grécia Antiga Xenofonte e Heródoto, apesar de ambos terem “quase certamente” visitado a Babilónia.
Segundo Hughes, os Jardins Suspensos da Babilónia foram uma realidade: “Certamente devem ter existido de alguma forma, dadas as suas evidências incidentais e reputação, e a obsessão da Idade do Ferro em interferir na Natureza”.
O que terá então provocado o seu desaparecimento e a falta de evidências arqueológicas? Para a historiadora, os jardins podem ter sido incorporados nas muralhas da Babilónia. “Afinal de contas, são os muros da Babilónia, e não os seus jardins, que aparecem vezes sem conta nas antigas listas de Maravilhas”. Dessa forma, os jardins tornaram-se uma extensão “orgânica e natural das muralhas” e as duas construções acabaram por se tornar uma só.
E as Sete Maravilhas do Mundo Moderno?
No início do século XXI a empresa suíça New Open World Corporation decidiu que estava na altura de se eleger as Sete Maravilhas do Mundo Moderno .Foi lançada uma votação à escala global para que se pudesse decidir quais as construções que deveriam ser distinguidas.
De uma lista de 20 monumentos definida por arquitetos, foram escolhidas sete, anunciadas numa cerimónia realizada em Portugal a 7 de julho de 2007. São elas o Coliseu de Roma, em Itália, a Grande Muralha da China, na China, Chichén Itzá, no México, Machu Picchu, no Peru, Taj Mahal, na Índia, Petra, na Jordânia, e o Cristo Redentor, no Brasil.
A Grande Pirâmide de Gizé, única maravilha do mundo antigo que continua erguida, não entra nesta lista, mas é considerada uma Maravilha do Mundo Moderno Honorária.